A vista pálida
de uma dúbia natura que resvala
nos córregos de pedras silenciosas
e o silêncio de cada coisa viva,
tangível, preso ao rabo do Azulado,
repensa o fruto plástico das horas.
Nas asas da vogal o verbo líquido,
jamais pronunciado e de erudito
corpo, galho inerte e vento,
retumba no jardim que se esboroa.
A rosa amarga, preta, rejubila
a torre de folhagens esquecidas.
O rasgo de dois versos num espinho.
No espaço entre duas asas o anelo
de ornar com seixos de ócio esta vereda:
Vales hirtos de espelhos retorcidos
refletindo o mar alto entre seus rotos
caules de vidro. Rezas junto ao cume
De ferro arroxeado, dia findo,
o magnético orvalho do suspiro,
o branco sobre o plano iridescente,
alma e plano, cerúleo patrimônio,
o faro insone do ocaso.
A flora quebra e escoa em pranto de ônix
sujando o véu turquesa pincelado.
Relva do azul, terreno amorfo. Eis
a lâmina de sangue ensimesmada
cortando em som opaco estas veredas
incolores do espaço, tudo é negro.
A voz plúmbea da rosa destruída,
que a chamam: letra cinza, vulcão débil.
Ecoa pelo vale e então se funde
ao olor que da terra exposta brota
Ungido no vermelho da consoante,
e como gema insurge, ametista
do dia, dissolvendo a noite em pétala.
Que, no ar, a treva imensa sobre os poros
da quietude cedendo ao próprio peso,
Se não salva o silêncio, salva a ti,
Que em mim redoura o verso morto.
E aqui, teu rosto em cor, aberto à rosa
descobre-me na condição de luz. Heitor de Lima
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