segunda-feira, 7 de março de 2016

Ramo-Gineceu


I
Dar à flor e ter no pólen
o amor que outrora pétala, decanta
mordido, cuspe. o sopro lapidado
desce em orvalho e espinho roto
no cálice xerófilo da sépala,
descasca o cinzento,
coral de lânguidos saberes.
Tombo nouveau
de próteses desnudas, centopeia:
o furo torto e oco do endosperma,
a flor desloca o escroto, tessitura
de ambíguas coronárias,
e furta a espuma e pega à mão
um alvo, dente-de-leão, leve peludo
pendurado no ar, no destilado escudo
de umidade, corcunda sereníssima,
(assinatura de ilustre candelabro)
móvel, estojo escondido no outono.
Incerta e folha, menina

II
A flor estanca seca
barrando a exatidão que em si conserva
cínica, obesa, colorida
flor de esguelha, vacila e se desloca
orelha a orelha, no ramo digital
da mão estranha, dos namorados curvos,
 condensados, esquálidos urbanos.
Pote de vácuo, piolho súbito,
a flor descalça no diadema
silábico, de espirros e batuques.
mirrados colibris na copa descoberta
se estiram pelo fogo sensorial,
sem cinto, sem mensagem.
No parto este elástico de pele,
 o coma e a sudorese sensitivos.
 contida flor, explode flor, uníssona,
e é flor forçada a ser não mais que um sexo 
e fere a vã vontade deste branco, 
recolhida, figurada, adolescente 

III 
Cromo em faísca, este breu
de Eros e óleo no visível.
flor que anda preguiçosa
perto do êxtase, acima do estio:
séria, rútila, centrífuga,
mulher que habita o som

Heitor de Lima

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