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Qualquer versão
moderninha daquele
tema de faroeste, que é
pro pessoal ver se entende:
apesar disso aqui ser um
barzinho: eu vou tocar o
concerto que fiz pra ti
duzentos e cinquenta e sete
dias antes do divórcio.
Ária
Talvez haja realidade
aqui – mas só talvez.
Ato I
Não há música, só o ruído
abafado dos teus uivos
no teatro lotado
que é este quarto.
Trio de jazz no bar ao lado
Dedos para rasgar cordas
e um batuque que faça teu
coração chicotear.
Cantiga de ninar no quarto de cima
Deita aqui no meu ombro
e fecha os olhos – shh –, acabou.
Ato II
As gotas no ladrilho do box
fazem um estampido que parece
o clec-clec dos teus saltos (cegos)
quando você sai pra trabalhar
todo dia depois da nossa primeira
vez – que também é sempre um
salto (no escuro).
Interlúdio
No banheiro:
um pequeno jato para o homem,
um futuro cientista ou filósofo ou
bandido ou natimorto para a
humanidade.
Ato III
Há tempos você
precisava estar
assim –
vestido preto,
colar de cristais
brilhando ao redor
do pescoço, os olhos
esverdeados saltando
do rímel –, para só então eu
te jogar do penhasco e dizer
foi um prazer,
meu amor, mas acabou.
Cachê
O dono do bar me
ofereceu um mês
de batatas fritas
pelas cordas tocadas –
e eu aceitei.
Divórcio
Testemunhas afirmam
ter visto os dois sorrindo
ao riscar os papeis com
garranchos sobre a linha
pontilhada.
Finale
(ponto) onde adormecem
os trens após passarem o
dia vomitando proletariado
com seu gosto amargo de derrota.
Casa
Era abrir a porta e te
ver lendo o último
da Patti Smith – em
qualquer lugar do mundo.
Mateus Baldi
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