Comédia escrita pelo dramaturgo norte-americano Ken Levine com fidelidade às regras do playwriting, America's sexiest couple estreou em julho de 2022 nos Estados Unidos, pondo em cena temas como etarismo e abuso sexual, a partir do reencontro de um casal de atores em fase outonal de suas carreiras.
Três anos depois, o texto ganha a primeira montagem brasileira em adaptação fiel de Tadeu Aguiar, também diretor da encenação, que vem percorrendo capitais do Brasil ao longo de 2025. No momento, O casal mais sexy da América está em cartaz no Rio de Janeiro (RJ), no Teatro Clara Nunes, um dos palcos do Shopping da Gávea, espécie de Cinemark do teatro carioca.
O grande atrativo da peça é a presença de Vera Fischer no papel de Susan White, atriz veterana que fez muito sucesso nos anos 1990, ao estrelar série de TV com o ator Robert McAllister, personagem de Leonardo Franco. Três décadas depois, enquanto luta para se manter em cena, Susan reencontra casualmente Robert em um dos quartos do hotel onde estão hospedados para ir ao funeral de um colega da mesma série. O encontro traz à tona memórias dolorosas, em jogo de cena armado para provocar o riso do espectador, com direito a uma cena de sexo confeitada com o humor pastelão das comédias mais populares.
Com elenco completado por Vitor Thiré, bem aproveitado no papel de um jovem millennial que trabalha no hotel, O casal mais sexy da América se escora na presença magnética de Vera Fischer. Uma das referências de beleza feminina no Brasil, a atriz catarinense, ao longo de sua carreira, lutou para provar que tinha talento. Esse talento é comprovado na pele de Susan.
Vera Fischer festeja 74 anos neste mês de novembro, precisamente no dia 21, e enfrenta há anos o mesmo ocaso de Susan White no mercado do audiovisual. Outrora protagonista de novelas como Coração alado (1980) e Laços de família (2000), sem falar em séries como Desejo (1990), a atriz já não encontra espaço no mundo das novelas e séries. E volta e meia se queixa disso em entrevistas.
Dessa forma, a encenação de O casal mais sexy da América se alimenta de um jogo de espelhos entre atriz e personagem. É como se Vera se visse refletida em Susan. E, quando a personagem desabafa sobre os efeitos do etarismo na profissão, é quase inevitável que o espectador interprete as falas como queixas da própria Vera Fischer em curiosa interseção entre ficção e realidade.
Com montagem de contorno realista, O casal mais sexy da América sustenta a atenção do público como esse jogo de cena ancorado na presença luminosa da impagável estrela Vera Fischer.
Mauro Ferreira
