quinta-feira, 20 de novembro de 2025

Mãe-Preta


— Mãe-preta, me conta uma história
— Então feche os olhos filhinho:

Longe muito longe
era uma vez o rio Congo…

Por toda parte o mato grande
Muito sol batia o chão

De noite
chegavam os elefantes
Então o barulho do mato crescia

Quando o rio ficava brabo
inchava

Brigava com as árvores
Carregava  com tudo, águas abaixo
até chegar na boca do mar

Depois…

Olhos da preta pararam
Acordaram-se as vozes do sangue
glu-glus de água engasgada
naquele dia do nunca-mais

Era uma praia vazia
com riscos brancos de areia
e batelões carregando escravos

Começou então
uma noite muito comprida.
Era um mar que não acabava mais

… depois…

— Ué mãezinha
por que você não conta o resto da história?


Raul Bopp


(Esse poema, assim como Bate-Pilão foi publicado em 1932, no livro Urucungo, pela Editora José Olympio, organizado por Augusto Massi.)

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