quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A uma dama crioula


No inebriante país que o sol acaricia,
Sob um dossel de agreste púrpura bordado
E a cuja sombra nosso olhar se delicia,
Conheci uma crioula de encanto ignorado.

A graciosa morena, cálida e arredia,
Tem na postura um ar nobremente afetado;
Soberba e esbelta quando o bosque a desafia,
Seu sorriso é tranquilo e seu olhar ousado.

Caso viesses, Senhora, à heroica e eterna França,
Junto às  margens do Sena ou onde o Loire se lança,
Tu que és digna de ornar os solares altivos,

Farias, ao abrigo das sombras discretas,
Mil sonetos brotar no coração dos poetas,
Que de teus olhos, mais que os negros, são cativos.


Charles Baudelaire


(Esse poema, traduzido por Ivan Junqueira, foi publicado originalmente em 1857 e pode ser encontrado no Brasil na edição pela Editora Nova Fronteira)

Nenhum comentário: