terça-feira, 18 de março de 2014

Mas ainda há música



Durante uma semana rimos na mesma cama. Dormimos na mesma cama. Durante uma semana ele me fez acreditar que era o francês mais nordestino que eu conhecia com sua leveza de alma. No vento dos seus cabelos. No verde dos seus olhos. Com os momentos em preto e branco. Durante uma semana ficamos acordados na mesma cama e ele me disse ser filho de um pássaro quando enterrei os dedos nos cabelos dele como se fosse encontrar peixes. A torre Eiffel. O rio Sena. Labirintos. Durante uma semana tivemos tempo para cachaça e vinho e amigos e música alta. O girassol secou. Os grãos, todos, viraram pães e massas e tortas. Durante uma semana ele foi uma caixinha de ferro antiga de uma feira de antiguidade qualquer que guardei segredos e poemas e fósseis e marcas. Durante uma semana ele foi um encaixe perfeito na minha cama com seus amores formando e sua paisagem humana delirante. Não sei quantas semanas depois ele é como um barulho que vai sumindo ao longe e não se sabe precisar o momento exato em que se deixa de escutá-lo. Mas ainda há música.

Franck Santos


Franck Santos é leitor-colaborador do jornal Plástico Bolha da cidade de São Luís - MA. 

Um comentário:

Franck disse...

Obg pela publicação. ..