sexta-feira, 8 de abril de 2016

Susto


Um peixe que é peixe vivo
se livra, escapa do signo.
Salvo do céu, do zodíaco, 
parte num aquário sem vidro.
E nada, por nada,
esquecido: quem foi
a linda deusa afoita,
a sua sombra entre os astros?
Áspera água onde a sorte é deslizar.
O seu perigo bíblico é
quem quer multiplicar
sua morte marinha,
sua carne sem espinha
e replicar seu clone
como chapéus de cônego.
Um peixe é um peixe.
Em inglês se diz fixe
mas não quer dizer
que dizendo existe.
Bárbaro que a grega 
que vê perde a fala.
Palavra: não chega
mas se calhar resvala.
O peixe vazio imita o infinito.
Com a prata da escama
é que é mais bonito!
Não pisca o olho místico,
um asterisco sem nota.
Ser político não dorme
e quer outros em volta.
Na luta sem dupla
sente: não tem mãos
- ai que susto agora! -
mas não o apanharão.
São surpresas os riscos
neste oceano impreciso
onde um peixe vive,
resiste e é só isto:

Durval de Barros

Nenhum comentário: