terça-feira, 22 de maio de 2018

Elegia à Guerra


Inda que te elejam o senhor de muitos destinos
Duma nação eleito o filho
Inda que sejam teus o fruto e a terra por onde caminhas e plantas
A fome esposou-te

Inda que sob o certame de nenhuma bandeira
Inda que beijes a minha mão esquerda
Confrontarás a cadela no cio

Inda que de sangue esteja vermelho o leito de teus rios

Inda que o soldado impunhe sobre a tua cabeça a baioneta
Inda que tua mão lavore
Inda que o revoar do bando doire
Inda que sobre a tua bandeira tenhas a batuta

Inda que sob a luz dum céu de brigadeiro
a haste tremule

Inda que achaquem tua mão sobre o batismo
Inda que revoltoso o teu estômago vazio
Inda que declames à pedra no caminho
Inda que no rio Vermelho haja regozijo

Inda que d'alma a sincopada rebente num sorriso
Inda que sangrem as tuas bochechas por bruxismo
Inda que te tornes homem dado aos sofismos

Inda que logre a ocra porta entreaberta

Inda que rogues por minha culpa
Inda que me outorgues teu juíz
Inda que balances nos quadris duma meretriz

Serás isto ou aquilo
Poeira ou pó imaterial
Revés esquecido
Matéria morta à terra devolvida
para findar o ciclo.

Antonio Marcos Abreu de Arruda

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