Inda que te elejam o senhor de muitos destinos
Duma nação eleito o filho
Inda que sejam teus o fruto e a terra por onde caminhas e plantas
A fome esposou-te
Inda que sob o certame de nenhuma bandeira
Inda que beijes a minha mão esquerda
Confrontarás a cadela no cio
Inda que de sangue esteja vermelho o leito de teus rios
Inda que o soldado impunhe sobre a tua cabeça a baioneta
Inda que tua mão lavore
Inda que o revoar do bando doire
Inda que sobre a tua bandeira tenhas a batuta
Inda que sob a luz dum céu de brigadeiro
a haste tremule
Inda que achaquem tua mão sobre o batismo
Inda que revoltoso o teu estômago vazio
Inda que declames à pedra no caminho
Inda que no rio Vermelho haja regozijo
Inda que d'alma a sincopada rebente num sorriso
Inda que sangrem as tuas bochechas por bruxismo
Inda que te tornes homem dado aos sofismos
Inda que logre a ocra porta entreaberta
Inda que rogues por minha culpa
Inda que me outorgues teu juíz
Inda que balances nos quadris duma meretriz
Serás isto ou aquilo
Poeira ou pó imaterial
Revés esquecido
Matéria morta à terra devolvida
para findar o ciclo.
Antonio Marcos Abreu de Arruda
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