Choro para perimir meu choro. Estou à beira de um
conluio comigo mesmo que visa à
maquinação da minha própria morte. Meu corpo é um mocambo que abriga a minha
quintaessência em um cômodo obscuro de sangue denso e insosso. No intermezzo da
minha loucura, antevejo incisivamente o desapercebido da coisa e me pego
desbragadamente absorto em meus pensamentos. Algo em mim tornou-se impassível,
embora haja uma afluência de delicadezas que me arrojam de bruços contra o
travesseiro. Levanto-me e me apoio sobre a torça da janela, e sinto o vento que
vem do longe e irrompe as minhas memórias, transviando-me para um encontro
frontal do éthos com o "eu" do eu lírico. Golfo minhas bazófias e
mergulho a minha cabeça na tina que se encontra no mesmo cômodo de sangue
crespo. De ímpeto, suspeito de que a janela seja composta por uma torça falsa e
de que o vento nunca existira, e de que o encontro comigo próprio também nunca
ocorrera. Estaria esse "eu" na parte mais etérea da minha existência,
na qual a fluidez de tudo confunde-se com a não existência do nada? Fui designinado
por Deus à autocolusão. Estou a cada dia mais achatado, ressonando dias e
noites sem ouvir os estrilos arfantes que o sonhar da vida e da morte tem me causado. Sinto-me
reificado, como se eu ainda fosse semelhante a uma coisa que já fui: como se eu
fosse um parônimo corpulento de alguma
outra coisa de que sinto saudade. Culmino em balbuciação uníssona de frações
impróprias de anamnese, escrevendo-me
errado, mal direcionado entre o real e o imaginário de uma essência que se
ovalou nos meus passos. Sou copiosamente contencioso, conquanto aquele cômodo
seja teso e me faça senti-lo sobre a pele flácida um pouco acima do estômago.
Constranjo-me a felicidade e transformo
o meu músculo cardíaco em um objeto quadrilongo, senão esquadriado. Visto-me de um sambenito
contumaz, felpudo e lanoso, como se o estopim do mundo estivesse no porvir de
me sugar a última gota de sangue chafurdada em humanidade. Atiro-me em minha
própria arapuca... Que os Tupis, sangue primo da bandeira do meu país, perdoem-me. Embora bravamente, luto
para salvar a minha morte. Eis uma tapera à procura de habitação.
Augusto César
Augusto César
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