Deixe eu deliciar esse cotovelo que tu tens. Cotovelo concreto e completo que tu tens, onde guardas ainda um pouco de simplicidade. O resto do teu corpo é todo complicado, uma confusão de dentes e cabelos, cérebro úmido e mal-entendido amarrado no nó dos intestinos. Amarrado à barriga, amarrado ao útero inútil. Deixa eu tocar-te o cotovelo. Cotovelo belo como aquela torta macieira que subias nos verões da tua infância. A macieira tinha a mesma pele seca e umas cicatrizes que vocês deram uma à outra. E tu ficavas escondida nos braços dela, e tu matavas as formigas. E comias as maçãs, e comias as sementes das maçãs porque a tua mãe te disse que uma pequena macieira cresceria dentro de ti se tu comesses as sementes das maçãs. Era uma mentira de mãe, mas tornou-se verdade da filha quando arrancaram tua macieira numa tarde de raízes súbitas. Deixaram só as pétalas caídas na bacia.
Eu quero despetalar-te. Deixa eu ver este teu cotovelo, maçaneta do teu ser. Deixa eu entrar e assim entrando entender, talvez, a tua insistência nas coisas que não existem.
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Chloe Paisley é havaiana! Já esteve por Portugal e pelo Brasil, onde, além de adquirir enorme habilidade na língua de Camões, acabou conhecendo a galera do Plástico Bolha em uma oficina de texto poético oferecida na PUC-Rio pelo professor Paulo Henriques Britto. Nossa amiga parece lançar uma luz sobre a língua portuguesa como só alguém de fora poderia fazer. Esse texto é um dos clássicos do Jornal Plástico Bolha e foi publicado na edição #16, de Setembro de 2007.
3 comentários:
oi lucas
ótima iniciativa! Bem vindo a Blogosfera! Um bjo ANDREA Carvalho Stark
Acabo de conhecer o plástico bolha através do "Coelho".
acho que vou ficar por aqui, sendo vizinha.
"Deixa eu ver este teu cotovelo, maçaneta do teu ser".
muito, muito bom!
de chorar!!!
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