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A idéia é indicar um livro a cada domingo. Para começar com o pé direito, a dica de hoje é o badaladíssimo livro de estréia da poeta, nossa amiga de Plástico Bolha, Alice Sant'Anna.
Ao longo dos 47 poemas do livro, Alice mostra que já está a vontade na poesia. As longas horas de observação pela janela do ônibus, as memórias trabalhadas, as anotações no caderninho, as postagens no laboratório-blog; tudo isso contribui para que a sua poesia ganhasse um valor indiscutível. Em A dobradura, a autora nos apresenta uma subjetividade cuidadosamente construída que apreende o mundo de forma simples mas sempre com muita graciosidade. Alice forjou uma dicção poética tão natural que parece já nascer pronta — aquele tipo de construção linguística que parece sempre ter estado ali, tendo cabido ao poeta apenas descortiná-la. Mas Alice não é ingênua: "suspende o fôlego (é tudo ensaiado)"... No campo sonoro, o trabalho também não deixa a desejar, assim como a produção editorial da 7Letras que fez um livro tão delicado quanto o seu conteúdo.
Alice já é velha conhecida dos leitores do jornal Plástico Bolha. Os seus textos já publicados podem ser encontrados no link . É legal ver como algumas versões do livro são bem diferentes das publicadas no jornal. Atenção especial para "Marcelina" e "o que sei sobre os gatos", que tiveram alterações mais significativas.
A partir da próxima edição, Alice vai estrear uma coluna exclusiva no Plástico Bolha. Devido ao trabalho que ela já vem desenvolvendo, e ao estilo trocadilhesco do jornal, a coluna foi batizada como Dobradinhas e será co-editada pela autora. A idéia é publicar sempre um poema dela com o de um convidado. Para a Dobradinhas de estréia, Alice convidou Ismar Tirelli Neto e o tema serão as manias de cada um. As ilustrações da coluna serão assinadas por Raïssa Degoes.
Para fechar, uma das minhas poesias preferidas do livro:
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quando faltou luz
ficou aquele breu e eu
com as mãos tremendo
morta de medo
de tudo se iluminar
de repente
Um comentário:
brilhante.
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