quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Índia em fragmentos poéticos

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Ir à Índia e mergulhar numa cultura tão sofisticada e diversa da ocidental pode mudar a vida de uma pessoa – a ponto de desencadear um processo de escrita que já gerou dois livros. Foi isso o que aconteceu com Lucas Viriato de Medeiros, aluno do Departamento de Letras da PUC-Rio, que acaba de lançar Retorno ao Oriente, uma espécie de diário de viagem em forma poética que inclui crônicas, textos em prosa e até piadas.

Em 2006, Lucas embarcou em sua primeira aventura pela Índia, a convite de sua professora de yoga. O único contato dele com a cultura daquele país tinha se dado por meio do
Movimento Hare Krishna, fundado no Ocidente pelo mestre espiritual indiano Srila Prabhupada, na década de 1960. Essa experiência resultou no livro Memórias Indianas, uma coletânea de fragmentos poéticos que intercala jogos de linguagem com passagens mais narrativas.

– Na primeira viagem, passei a maior parte em Pondicherry, uma cidade do sul da Índia que lembra a Riviera francesa. Lá, tive uma convivência muito real, diferente da visão de turista tradicional. Ir à Índia é sair completamente do nosso mundo eurocêntrico. Gosto muito do que choca e gera estranhamento cultural, diz o escritor.

Também escrito em fragmentos, Retorno ao Oriente é o resultado da segunda viagem de Lucas, dessa vez ao norte da Índia. “Este livro surgiu assim, um pouco como pretexto, um pouco como desculpa ou contrapartida para a nova viagem”, conta o autor. Na cultura indiana, o número 108 tem um significado relevante, que remete à transcendência. O livro consiste em 108 pequenos flashes que, segundo ele, “se deslocam entre a apreensão poética da realidade e o exercício da imaginação”. Para Paulo Henriques Britto, professor do Departamento de Letras, esse é o aspecto mais interessante da obra:

– A concepção do livro é muito inteligente. A Índia não é um país, é um mundo. Por isso, ao invés de fazer um texto unificado, ele fez vários fragmentos. Esse caráter do texto tem tudo a ver com o pluralismo indiano, afirma.

No prefácio, a professora
Marília Rothier Cardoso destaca como a escrita de Lucas desperta a imaginação. “Este livro exige atenção, raciocínio e disponibilidade para o fascínio e a alucinação. Nenhum instante de tédio nessa viagem pelos roteiros da escrita”, diz.

Lucas também é editor do
Plástico Bolha, um jornal que nasceu em 2006, com quatro páginas, e hoje circula com dezesseis páginas, com uma tiragem de treze mil exemplares. O Plástico Bolha já publicou textos de cerca de 250 autores, muitos deles estreantes, e, agora, também está presente na internet, no site http://www.jornalplasticobolha.com.br/, e em várias cidades do estado do Rio de Janeiro, além de em Belo Horizonte, Vitória, Vila Velha, Porto Velho, Salvador e Brasília
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Matéria de Carlos Heitor Monteiro, Jornal da PUC, Dezembro de 2008