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Faz 30 anos. Na verdade 31. Mas desse 1 eu me dou o direito de desfazer e só retomá-lo quando se tornar um membro da casa decimal e vir acrescentar mais alguns anos de experiência a minha vida. O que não posso exigir muito. Estou com os olhos cansados, o corpo repassado e a alma mareada. Pouco parece restar do caminho que quis percorrer na minha juventude com tanto afinco. O ponto de ônibus está logo adiante, pronto para que eu me sente nele esperando a condução para a vida seguinte.
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Como dizia, faz 30 anos que não vivi como queria. 30 anos de sonhos cancelados. 30 anos de pesadelos transformados em monótonas noites de insônia. Já me perguntaram como eu conseguira. Ora, são 30 anos! Eu não soube responder nem em 30 segundos. Fiquei calado por mais de 30 minutos, e quando me dei conta, já faziam 30 anos de silêncio. Quem diria!
Como dizia, faz 30 anos que não vivi como queria. 30 anos de sonhos cancelados. 30 anos de pesadelos transformados em monótonas noites de insônia. Já me perguntaram como eu conseguira. Ora, são 30 anos! Eu não soube responder nem em 30 segundos. Fiquei calado por mais de 30 minutos, e quando me dei conta, já faziam 30 anos de silêncio. Quem diria!
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Olho agora pela janela. Lá fora só o vento que assopra. O mesmo vento que empurra meu corpo há 30 anos. Pensei em voltar para lá. Sim, além da janela. Muito além dos 30. Mas só agora descobri que o tempo não volta. O retrocesso só é permitido na memória debochada das fotografias. Negaram meu último pedido. O último que poderia ter feito em 30.
Olho agora pela janela. Lá fora só o vento que assopra. O mesmo vento que empurra meu corpo há 30 anos. Pensei em voltar para lá. Sim, além da janela. Muito além dos 30. Mas só agora descobri que o tempo não volta. O retrocesso só é permitido na memória debochada das fotografias. Negaram meu último pedido. O último que poderia ter feito em 30.
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Não foram 30 dias, não foram 30 horas. Foram 30 anos perdidos. Desgastados como o meu sorriso de agora ao olhar pela janela.
Não foram 30 dias, não foram 30 horas. Foram 30 anos perdidos. Desgastados como o meu sorriso de agora ao olhar pela janela.
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Minha mente ultrapassou os 30. Seguiu amiúde até mais longe. Contudo, sempre acanhada, desesperançosa de quantos passos a mais daria além dos 30 usuais de que tanto escapava. Fingi não me importar nesses 30 anos. Achei que ainda teria mais 30 para poder me realizar. E nem 30 segundos me foram dados.
Minha mente ultrapassou os 30. Seguiu amiúde até mais longe. Contudo, sempre acanhada, desesperançosa de quantos passos a mais daria além dos 30 usuais de que tanto escapava. Fingi não me importar nesses 30 anos. Achei que ainda teria mais 30 para poder me realizar. E nem 30 segundos me foram dados.
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De fora, agora olho para a janela do meu quarto. Aquela mesma que me separou da vida durante 3 décadas. Ainda posso ver meu rosto triste querendo o que está fora. Eu consegui me desprender da janela, mas meu corpo continua lá como há 30 anos. Não sei se ainda se seguirão mais 30 anos. No entanto, a minha alma já fugiu de seu rumo nos 30 segundos seguintes.
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Chiara di Axox, uma de nossas primeiras autoras publicadas, finalmente retorna ao Plástico Bolha para mostrar a diversidade de estilos de sua escrita. Resta só a dúvida: como seu personagem chegará aos 60?
Um comentário:
Seu texto esta' amadurecido, boneca. Gosto desse lirismo, dessa pessoalidade formal. E o suspiro da poesia. Saudades,
Fernando
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