Cedo da manhã, senhores, senhoras, senhorios caminham impacientes em direção ao buraco no chão. Escapolem pela escada datilografando os degraus com saltos de madeira até alcançarem a roleta que lhes dará acesso ao interior dinâmico da cidade.
O sol, deixado metros acima, contrasta com a luz branca que tudo entristece. A proximidade entre as pessoas impede qualquer ajuste à crescente temperatura.
Distraem-se como podem: folheiam o jornal, ouvem música e até, os mais experimentados, lêem livros valendo-se de manobras contorcionistas e exercícios monásticos de concentração. Alguns buscam os modos alheios, furtivamente. Não convém buscar o outro.
A cada parada trocam-se os rostos, milhares deles. Em comum, a pressa de chegar. Pressa exata, calculada em minutos e exibida em letreiros luminosos. Os trens costuram as entranhas da terra veloz e maquinalmente, nosso teletransporte de ferro. E nós, carregados, cismados com um caminho: hemácias, plânctons, poeira.
Na saída, desfaz-se o labirinto. Para trás, abaixo dos pés, os trens, os pedintes, o calor. Acima, o que vem é otimismo.
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Juliana Cesario Alvim
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Juliana Cesario Alvim é mais uma nova autora a se destacar com esse belíssimo texto. Borges costumava dizer que viveremos na era do conto e aqui vemos quantas possibilidades podem advir daí. Um conto veloz que atravessa com a linguagem a dinamicidade da nossa era através do olhar subterrâneo de uma autora que é mais uma revelação do jornal Plástico Bolha.
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