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Meu texto que segue pode, de fato, parecer histérico e inútil — mas, para mim, é necessário escrevê-lo.
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A obra de arte mais contundente que já vi aconteceu no dia vinte de março de dois mil e nove. Nesse dia, pude presenciar uma forma de arte integral; o concerto do Radiohead a que assisti consistiu na junção de som, de luz, de fúria: de sentimento.
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O público, embalado pela iluminação ofegante e repleta de convulsões e pela hipnose rítmica proporcionada pela banda, estava em condição de arrebatamento, em êxtase. Canções como “There There” e “Paranoid Android” ultrapassaram a barreira da música: superaram-se. Digo “superaram-se” pois, uma vez que elas já possuíam o status de obras-primas da fonografia, ao vivo elas alcançaram outro patamar - um patamar que não sei bem definir qual é e que, mesmo que definisse, não seria a definição mais apropriada. Em “Paranoid Android”, por exemplo, o trecho “ Rain Down/ Rain Down/ From the great heights”, cantado pelos fãs em tamanha sintonia com a banda e com os canhões de luz, tornou-se um mar: molhou a passarela do samba e desaguou na apoteose. Nesses instantes, podia-se sentir a chuva caindo.
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Como se percebe, a chuva é alegórica. Todavia, ao final do show, encontrava-me realmente encharcado. Não apenas minha camisa era repleta de água: suor. Minha alma também havia sido lavada. Os gritos, os ecos, as vozes, as faíscas haviam comungado tão profundamente que minha voz desapareceu, cãibras surgiram e demônio algum conseguiu permanecer em mim — confirmando, portanto, a potência física e espiritual da noite.
.Lucas Ferraço
5 comentários:
Muito bom!
A melhor definição de sentimentalismo a um espetáculo: espetacular. Se entregar é bom.
Maravilha!
Mágico!
Mágico!
Mágico!
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