quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Arqueologia


Nem mesmo a mais remota pista de uma sirene no background do desenho de som de alguma cena de algum filme de alguma época que já pudesse ter visto. A vida não cabe num tubo de ensaio, ela pensou. Quem dera os elementos pudessem ser balanceados como numa xícara de café – para uns, mais fraco, para outros, mais forte, mas sempre a mesma composição de pó e água que já se espera. Vale pelo laboratório!, alguns disseram, com citações a dicionários, receitas de bolo, progressões aritméticas. Mas a moça – ou já era um tamanduá? – não ouvia nada. Entre folhas e gravetos, camuflada, à espreita. Foi então que, no ímpeto da caça, em busca de qualquer formiga, desenrolou um emaranhado de arame com suas patas, as unhas crescidas atrapalhando um pouco, e preparou uma arapuca. Ou ela, ou eu, cogitou ainda. E mesmo já não sabendo quem era quem, lançou a armadilha, e pescou uma pedra em que estava inscrita a imagem de seu rosto.




Ana Costa Ribeiro tem texto publicado na versão impressa da edição #26 do jornal Plástico Bolha.

Um comentário:

Marina R. O. H. disse...

Belo, profundo, como você sabe ser: bela, profunda!