I.
NOITE
Ou blues para Peim
Abre
a tua cara, ri, naufraga
Na
sepultura desta noite.
Deixa
que a música te açoite,
Engole
o arpão da madrugada,
Chupa
o estalactite, o chicote
Frio
do ar, música gelada,
O Blues
que o som do trem apaga...
Dança,
antes que a razão te afoite.
Pé
ante pé, desce os degraus
Desta
estação velha – Bauhaus –
Tanto
barata quanto rara,
De
graça... vida de palhaço;
Contorce
em macarrão teu aço:
–
Naufraga, ri, abre a tua cara.
II. AMANHECER
Ou semiose chinesa para Ezra Pound
sorrir
Não
sei pra que serve o ego,
esta
di-visão, quimera
de-marcar
“era” & “não era”,
ego
ainda quando nego...
Que
tal ver a forma inteira,
que
o partido aparta, cego?
Sigo
a ponte ao meio e rego
signos
para a sementeira
de
acordar acordos. Rogo,
pois
a forma FLOR aFLORa
demonstrando
a estrada, agora...
Pura
analogia. Logo,
quem já for treinado em fogo
lerá 明 em vez de Aurora.
III. MEIO-DIA
Ou dissoneto de Rogério “Caos”
Tal
como Shakespeare cantou Southampton.
Não. Como Neruda quebrou as rimas.
Não. Como Pessoa quebrou o ego?
Não! Nem Petrarca nem Camões. Já chega!
Quero
um soneto de verdade, vivo,
que
rime como um furacão demente,
que
fale como o céu cuspindo gelo;
na
primavera rime de repente,
cantando
um sapo bobo de haikai
e
termine faltando um quarteto
–
ou não termine nunca, como o céu
e
te arrebente de azul
e
te arrebente de azul
e
te arrebente de azul
Carlos Pittella-Leite
Carlos Pittella-Leite ficou em segundo lugar no 4º Prêmio Paulo Henriques Britto de Prosa e Poesia, organizado pelo PET-Let da PUC-Rio.
Lembrete! No próximo dia 17, às 17:00 hrs, será a entrega do 5º Prêmio Paulo Henriques Britto, no Laboratório de Artes Cênicas (LAC) da PUC-Rio.
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