sábado, 20 de setembro de 2014

aos teus pés


Existe coisa mais de menina, que tirar foto dos pés? Aqueles dedinhos fininhos, enfileirados, salientes; as pernas e a coxa de moça em formação vão se afinando lá embaixo, sugerindo o infinito. A fibra rija de fruta da estação se perdendo na penumbra da distância da mudança de foco. As lentes digitais não captam, mas eu bem sei aqueles micro-pelinhos loiros, cobrindo toda a pele como um jardim sutil. Nem a Canon nem a Nikon registram seu cheiro seco de flor ressecada entre páginas de um caderno. Ou aquele dos saches perfumados do seu armário. Nada disso sai. Então, por que será que me lembro tanto de você vendo esses mini-dedinhos lá no fundo do fim da foto? Eu intuo de você tudo, a partir dessas duas pernas, desses dez dedos. Tudo que não está lá. Eu não tenho dimensão do seu tamanho. Não sei a distância que a fibra percorre do quadril à sola. Não sei quanto você calça. Seus pés não são reais, são dois, barrocos e consoladores, insinuando paz onde há só guerra. São um alento religioso. É isso: eu tenho fé; eu tenho fé nos teus dedos de moça. Nas unhas pintadas do pé, que eu sempre achei uma futilidade. Sou pura fé e entrega e estou sempre estive a teus pés.

César Sampaio

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