segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Eu, o cuspe e a flor


Cuspo no chão
na esperança que uma flor
                nasça
por entre pernas e
                saias
regada pela saliva úmida
mas ela não nasce
ela é dura, José!                                                                                     

Extremamente salgada,
talvez seja isso.
Com a boca mordida
e o sangue nutrido
cuspo de
                novo
mas o asfalto é quente e negro

Meio dia na Bahia
não é hora de cuspir
as bocas não mais se cospem
alguns nunca cuspiram,
e o cuspe evapora
no chão que ferve os pés descalços.

E após vários cuspes
a secura é presente
a língua tem câimbra
a boca se fecha
os dentes se mordem
e nem sinal de flor.

O cuspe elaborado ainda não há
a flor é exigente
exige dos seus o tempo que for
o cuspe é
                necessário
mas não suficiente
a vida não basta
não basta o cuspe e a esperança de flor

é preciso mais
talvez mais fome
talvez mais dor
talvez mais        
                eu.



Renan Leal


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