segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Pergunta simples ao coração de Flaubert


Sabemos que Sra. Aubain era invejada pelos burgueses de Pont L'Évêque por ter à disposição uma criada mais do que dedicada a salário tão baixo - quase meio século de infelicidade remunerada a cem francos por ano. Você nos descreveu em detalhes as desventuras da infeliz empregada, que escolheu chamar Felicité...

Você mencionou os nomes de muitos outros que circularam em torno das desgraças da criada. Dos Larsonnière, por exemplo, todos sabemos que chegaram à cidade logo depois da Revolução de Julho. Deixou-nos saber que o Barão de Larsonnière veio em função de sua nomeação como novo subprefeito do local e que fora ex-cônsul na América. Em sua companhia vieram a mulher e a cunhada com três filhas crescidas. “Eram vistas sobre a relva do jardim, vestidas de blusas flutuantes; possuíam um negro e um papagaio”. Você fez questão de nos fazer conhecer o nome do papagaio: Lulu. Contou-nos que Felicité quis o bicho, que remetia, pela origem, a seu sobrinho Victor, morto pelos lados das Américas. 

Sabemos da generosidade da Sra. Larsonnière, ao enviar o negro para entregar a Felicité o papagaio Lulu como presente. Sabemos do começo, meio e fim da vida de Felicité. Interessa-nos a história do emissário de seu presente. Portanto, ousamos dizer (não se ofenda): Faltou uma história. Faltou um nome. Por quê?

Paulo Vicente Cruz



Paulo Vicente Cruz teve textos publicados na Revista Piauí, Subversa e em duas edições especiais da Revista Gueto. Alguns de seus contos também integram a edição comemorativa de 40 anos dos Cadernos Negros, tradicional publicação de literatura afro-brasileira. 

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