quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Um poema de Paulo Donadelli


Eu sou o homem médio da história
arquétipo perfeito de historiadores e etnólogos
Sou o vulgo, o qualquer do povo
[de qualquer povo
aglutinado fungível na massa indistinta de miseráveis que compõem o mosaico milenar da população planetária

Sou ninguém e ao mesmo tempo espécime exemplar de todos

Meus ossos são o cimento da muralha da China
e as fundações do Empire State
meu sangue azeitou o caminho
por onde arrastaram as pedras das Pirâmides

Esse tempo secou minha  voz
mas milhares de intelectuais de pau mole
ainda dissertarão sobre mim
vendendo consciência social pros otários

No fim, nós todos cagamos uns pros outros
e nossa bosta vira uma pasta uniforme que
flana sobre o rio de nossa cidade
com a esperança de desaguar ainda inocente numa praia turca
nas margens do oceano da mazela humana

Paulo Donadelli

Nenhum comentário: