sexta-feira, 24 de maio de 2024

Entrevista: Marilucia Corel — infância, leitura e o amor pela docência

 por Lucas Barreri e Ana Caroline Araújo 


Marilucia Corel Ribeiro é professora. Possui três graduações: Teologia, Letras - Português/Grego (UFF) e Pedagogia (CEDERJ). Atuou na rede estadual, no Liceu Nilo Peçanha, como docente da disciplina de Ensino Religioso e no município de Rio das Ostras como professora de Língua Portuguesa. Possui especializações em Literatura Infantojuvenil (UFF), Mídias na Educação (UFRJ) e Planejamento, Implementação e Gestão de EAD (UFF). Recentemente, realizou um curso de Guia de Turismo e atualmente pesquisa a História do Rio de Janeiro.

1) Como a Literatura entrou em sua vida e como você se relaciona com ela hoje?

Meu primeiro contato com a Literatura ocorreu por intermédio das histórias infantis contadas pelo meu irmão. Amava ouvir, por exemplo, "Os Três Porquinhos", e ver meu irmão interpretando os personagens. Assim que comecei a ler, por ser curiosa, lia tudo o que podia. Por ter desenvolvido esse interesse, ganhei livros ainda criança - A Fada que Tinha Ideias, Girafinha Flor faz uma descoberta, uma coleção de histórias em quadrinhos da Disney (mais de 30 exemplares). Na escola, sempre passavam leituras bimestrais, e eu também pegava livros emprestados na biblioteca municipal localizada no Barreto (li praticamente toda a série Vaga-Lume) no período da adolescência. Diante disso, não posso negar que o amor pela leitura foi um dos fatores que me levaram a cursar Letras. Atualmente, pelos diversos afazeres, meu ritmo de leitura não é tão intenso, mas continuo amando e viajando pelas páginas de muitos livros. 


2) Dom, inspiração, trabalho, achado: nasce-se poeta ou torna-se poeta? 

Pergunta difícil, mas penso que é preciso nascer poeta. A questão é se o dom será desenvolvido ou não, e para isso é preciso trabalho e inspiração. Então, considero que há muitos poetas escondidos, pessoas que não tiveram a oportunidade de seguir e desenvolver seu talento e encantar o mundo com suas percepções.


3) Sendo um profissional da palavra, o seu olhar está sempre afiado, ou você consegue ser um “leitor amador”? Há um botão de liga/desliga?

Não sei se consigo ser uma leitora amadora, pois tenho meus autores e temas preferidos, mas não gosto de rotular livros. Talvez por amar literatura infantojuvenil, tenho a facilidade de ler de tudo um pouco. Isso não significa que não faço minhas críticas, mas como a leitura pra mim é uma forma de lazer também, então me permito sair de um livro considerado clássico e ler um texto de um autor mais recente, que não seja tão conhecido, e aproveitar da melhor maneira o que a obra está oferecendo. 


4) Quais livros foram fundamentais para a sua formação? O que está lendo agora? O que indica como leitura para o momento atual?

A Bíblia é o livro fundamental na minha formação. Acrescento a essa prateleira A marca de uma lágrima, diversos livros da série Vaga-Lume, muitas histórias em quadrinhos e O Pequeno Príncipe. Meu foco de leitura atual está muito direcionado ao trabalho, então acabei de ler Arariboia – o indígena que mudou a História do Brasil e já iniciei a leitura de Rio antes do Rio – ambos de Rafael Freitas da Silva. Para o momento, sugiro a leitura de 1984, A Revolução dos Bichos, Robopocalipse, e as séries Maze Runner, Jogos Vorazes e Divergente.


5) A Literatura é, por vezes, considerada como escape da realidade e, outras, como forma de abrir nossos olhos para suas sutilezas. Como lida com essas percepções em sua própria escrita?

Por mais que se queira, a realidade nunca escapa de nós. São nossas experiências, vivências que fazem toda a diferença na hora de enxergarmos o mundo, na hora de nos expressarmos por meio das palavras. Então, quando escrevo, não consigo me desvencilhar do ontem nem do hoje, até porque essas vivências se tornam as lentes para olhar para o futuro.

 

6) O que te levou ao desejo de lecionar? Fale um pouco sobre essa trajetória.

Apesar de pertencer a uma família pobre, meus pais fizeram de tudo para que eu tivesse o melhor estudo possível. Sempre estudei em escola pública (com exceção da 6ª série – atual 7º ano) e nunca faltou nenhum material, principalmente livros. Já com meus 10 anos falava em ser professora, mas isso foi esquecido durante a adolescência. Terminei o ensino médio sabendo o que não queria, entretanto não havia definições sobre qual caminho profissional tomar.

Terminado o ensino médio, fiquei um ano sem estudar. Havia planejado descansar um pouco e ter tempo para pensar sobre o que fazer, e isso só pôde ser executado porque no início de 1994 meu pai faleceu e precisei lidar com o luto e ajudar um pouco a minha mãe nesse processo também. Foram tempos difíceis. No ano seguinte, iniciei minha primeira graduação: Teologia. Os anos difíceis poliram minhas ideias e minha fé. Durante o curso, me encantei pela língua grega e, ao findar esse curso, prestei vestibular para a UFF - Letras Português/Grego. O ‘ser professora’ voltou para a minha realidade e em 2003 fiz meu primeiro concurso.

7) Conte um pouco mais sobre a sua formação e seus novos projetos. 

A especialização em Planejamento, Implementação e Gestão de EAD (UFF) me permitiu atuar como tutora em um curso semipresencial por alguns anos, o que foi uma experiência incrível. Por intermédio de uma colega tutora, fui convidada a participar da gravação de alguns episódios do programa de TV “Hora do Enem”, um projeto desenvolvido pelo MEC que disponibilizava análises de questões de todas as disciplinas e de diversos temas para redação.

Já são 19 anos nessa trajetória. Daqui a pouco, esse ciclo se encerrará e novos se iniciarão. Acabei de fazer um curso de Guia de Turismo e estou inscrita numa especialização sobre a História do Rio de Janeiro. O amor pela leitura não só me fez viajar pelo mundo do conhecimento, mas despertou meu interesse em visitar lugares e aprender sobre o outro também, e penso que minha sala de aula será transferida para locais sem paredes, afinal, conhecimento precisa ser compartilhado. Não que eu já não faça isso. Aprendi com meus professores ao longo da vida que visitar espaços marcam e transformam vidas. Experimentei isso com eles. Faço isso com meus alunos. Que alegria é levar uma turma a algum local que achavam não ser possível visitar e ver o brilho em seus olhos! É recompensador. Desejo continuar visitando mundos, aprendendo e compartilhando até que o tempo de minha história alcance seu ponto final.


Esta entrevista foi realizada como parte das atividades de práticas extensionistas realizadas junto aos alunos da graduação em Letras da PUC-Rio, sob a supervisão da professora Helena Martins e com a coordenação de Suzana Macedo e Lucas Viriato.


Nenhum comentário: