segunda-feira, 17 de junho de 2024

Ódio II

 “que acreditava que eu seria grande.
raios partam a vida e quem lá ande!...”
Álvaro de Campos

Tédio de tudo
de ti, de mim,
da escassez do
barro
das lâmpadas
de led
da poeira
e do asfalto
dos rádios
ligados em
horário político
obrigatório
da Hora do Brasil
do Repórter Esso
do gesso que nos
une, dos
óculos, da
miopia
da noite
insone
dos bêbados
deitados
da insensatez
dos corpos
na manhã
que surge
por entre
as frestas
da morte
da dor
enorme
(“tédio com
T bem grande
pra você”)
dos editores
capitalistas
(que raiva
dos poetas
perfi-
lados
mendigando
publicidade)
das sombras
das futuras
gerações
da escada
do silêncio
e outras
tantas
ausências.


Milton Rezende

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