segunda-feira, 24 de março de 2025
domingo, 23 de março de 2025
água-forte
singrando fantasia qualquer
freme um risco
olho azul
dardo ofegante rapto
de um lance
pego acaso
quanto mais faz-de-conta
vigília de bolas de gude
miramar miramar
lufada de cor
irrompe
— prova o Cais
Naila Rachid
sábado, 22 de março de 2025
Um poema de Numa Ciro
passarei a tarde toda
descascando cebolas
só pra chorar sem motivo
Numa Ciro
sexta-feira, 21 de março de 2025
Carrossel
de manhã na
praia eles combinam
o que farão à noite de
noite, na festa eles
combinam de ir à
praia amanhã
Ana Salek
quinta-feira, 20 de março de 2025
Um poema de Natasha Felix
logo farei 22 anos.
me recuso a ir embora antes.
até lá enterrarei um filho. isso não será triste.
não vou embora sem cruzar a fronteira
enterrar esse filho
profundamente
não ser triste.
Natasha Felix
quarta-feira, 19 de março de 2025
Rosa Luxemburgo
passei a maior vergonha
no dia que tu viesse me buscar
usando uma camiseta
rosa-choque
tu só usa preto
e eu sempre reclamo
digo "aff Lukas que tédio"
e eu adoro rosa-choque
a cor o nome
não sei o que deu em mim
certeza que não foi inveja
foi outra coisa mais feia
olhei pra tu e disse
"oxe que cor é essa menino?
e tu
oito anos mais novo
millennial
anos luz à frente
dissesse
"qual o problema? só quem pode usar rosa é tu?"
e eu não soube responder
porque de fato
não há problema
algum
cores são uma invenção
e não têm dono
"pertencem à vida"
(não fui eu quem disse, foi goethe)
Adelaide Ivánova
terça-feira, 18 de março de 2025
Querida
Queria ser homem político
Sujeito herói bom lutador.
Queria ser poeta maldito
Profundo gênio sofredor.
Pronto me Safo do burro querer
És filha da terra e mãe hás de ser
Toda poesia que te queira nascer.
Marina Laurentiis
segunda-feira, 17 de março de 2025
Teima, de Ana Elisa Ribeiro
domingo, 16 de março de 2025
Ungida
Vem,
Unge-me com santos óleos:
O corpo,
Os cabelo,
A pele,
O plexo solar.
Vem,
Unge-me
Com óleo bento:
A mente,
O espírito
Sedento
De azeite quente.
Vem,
Unge-me,
De cada poro
Transpiro
Gotas de luz,
Toda pura
E poderosa.
Raquel Naveira
sábado, 15 de março de 2025
Para a mão que escreve
A pele soltando da mão
Parece um paço de dança
Parece doença
(embaixo da atadura
há vermes silenciosos
muito empenhados no seu trabalho,
seriíssimos decompositores)
Se for contagioso a esquerda
Escreve estrahno um pequeno desvio,
não se preocupe:
Fim de festa é sempre assim
Freezer vazio
E alguns corpos podres espalhados pela casa
Ana B.
sexta-feira, 14 de março de 2025
O assassinato de Marielle Franco
como apaga um corpo depois
de correr nele um vinho de tanta
fruta gorda e suculenta
você segura nas mãos da vida
e nela há respiração timbre
a pisada de um búfalo
o fôlego vindo das raízes
o vento que bate na areia da pele,
você vê os pelos eriçados
você inclusive se arrepia
e de repente um outro sopro
morde
onde tudo sangra
como que pode
morrer às vezes
ser tão lento
como apaga um corpo depois
depois de a pele que temos
ser tão consoladora
fica um pouco mais
poderia ter dito
mas o vinho por dentro ardia
e mesmo que o corpo ficasse
o elo de ser um animal
já tinha se desfeito
o visgo inteiro vazado
a ponto de nunca mais
poder ser recolhido
como que pode
um corpo inteiro
quebrado
a gente estendendo a mão
que fica mais no vazio
a gente também um corpo
esperando seu quebrado
como pode um corpo inteiro
sumir
mesmo desmembrado
sempre pode ou deve
o desencanto ser admitido
morrer como adormecer
entre as ruínas
as bombas
perder
sopro sangue ar
barco e mãos
atracados mas
pendentes
nos filamentos do espaço
a mão última que acena
sabe porque dói
o impossível
não pode mais.
Tatiana Pequeno
quinta-feira, 13 de março de 2025
Teima, de Laura Assis
Correr ao contrário
o caminho mais claro.
Ciência da escolha
em oposta direção.
Desacreditar a equação
precisa das respostas.
Insistir em tudo
que não tenha
o peso da realidade.
Laura Assis
quarta-feira, 12 de março de 2025
Escuro, de Marilia Kubota
o olhar ficou frio e duro
o mar sem movimento
ondas rápidas, gaivotas sujas.
o tigre ruge
no lençol azul-marinho.
nuvens de fuligem
sobre o pergaminho enrugado:
é inverno no atlântico
a vida tomba diante
do punho fechado.
Marilia Kubota
terça-feira, 11 de março de 2025
Quadrado Vermelho
de banhar também insiste
escorrer a mão ao sexo
cegar o pássaro pela metáfora molhada
você sabe bem
apanhar um número caído
estourar a bolha sociopata:
hoje eu menstruei em desesperos homeopáticos
Carla Diacov
segunda-feira, 10 de março de 2025
Espelho
Indira Kupfer
domingo, 9 de março de 2025
Jogo de prefixos
Quero
unir
o inútil
ao agradável.
Os que
desejam
o útil
fiquem
também
com
o desagradável.
Bianka de Andrade
sábado, 8 de março de 2025
Mulher
Jade Prata
sexta-feira, 7 de março de 2025
Poema Imemorável, inédito de Noélia Ribeiro
Noélia Ribeiro
quinta-feira, 6 de março de 2025
Um poema de Nadiá Paulo Ferreira
Quando me abraças
quarta-feira, 5 de março de 2025
PUTA DA BABILÔNIA
sou apenas como são os passarinhos:
não tenho entendimento do silêncio
mas
sou como são todas as mulheres
também:
mais fera que gente
ainda que por filosofia,
maldição ou benção
Fera de colo
querer de besta:
amar, matar e deitar, depois
beber água
cuidar das plantas
acompanhar uma vela inteira queimar
pensar eventualmente na morte
porque
se o apocalipse se deu
pela Puta da Babilônia
chama-me Babilônia
chame-me Puta
Ágatha Kreisler
terça-feira, 4 de março de 2025
segunda-feira, 3 de março de 2025
Eva, de Laura Liuzzi
Eva também é ave
palavra voo
desde cima
o cimo da pedra:
tártaro
dentista do limo
escalavra
a pedra da palavra pedra.
Laura Liuzzi
domingo, 2 de março de 2025
Dama da noite, de Marilena Moraes
Naquela noite, não houve aula no curso supletivo. Os alunos comentavam, atônitos, a manchete do jornal popular que passava de mão em mão.
"Exorcismo na boate" — "Professora de dia, stripper à noite, Bernadete dos Santos, 30 anos, também conhecida como Lucimar, foi assassinada por seu aluno, José Tenreiro, inconformado ao descobrir a segunda identidade da professora do curso supletivo que frequentava. Apresentando sinais de desequilíbrio mental, Tenreiro foi preso em flagrante, tendo ainda nas mãos o punhal de prata que cravou entre os seios da bailarina/professora em meio ao show da boate Clamores."
Ar de beata, rosto lavado, poucas palavras, tinha nome de santa e cheiro de talco. Dava aulas no supletivo, num bairro de gente simples. Com os alunos, o relacionamento era apenas cordial.
Ninguém poderia imaginar que a professora pacata, de roupas discretas, saía dali direto para Copacabana, onde, às três da manhã, estrelava o show da boate Clamores.
"Sex alive" — anunciava o neon. Maquiagem pesada, óleo no corpo, Lucimar se roçava no parceiro, sem sequer olhar para o seu rosto e sem encarar a plateia de homens agitados, que gritavam palavras que ela fingia não ouvir. Uma amiga a levara para a Clamores, convencendo-a de que podia fazer bom uso do belo corpo. Se o dinheiro das aulas era pouco, as notas verdes dos turistas ajudavam bastante no orçamento.
Religião? Nunca tivera. Pudor? Há horas em que a necessidade fala mais alto. Ao fim de alguns meses, o prazer de estar no palco, nua e exposta, passou a ser a razão mais forte de sair toda noite do Méier direto para a Princesa Isabel.
Não poderia, no entanto, imaginar um aluno na plateia. Tenreiro voltou na noite seguinte e em outras tantas noites. Reconhecera a professora na mulher de roupa colante e meia arrastão que saía da boate quase de manhã, pendurada nos sete centímetros de salto, abraçada a um gringo qualquer.
Noite
saí tropeçando
fuligens.
rastro de pólvora
cola, descola
medo da sua língua
na minha — segurei.
a mão
quente
medrosas gotículas brotaram
do útero.
essa flor
é
para você.
Letícia Simões
sábado, 1 de março de 2025
Mês da mulher no Plástico Bolha
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2025
Clypeasteroida
Sob o rumor das ondas
irisadas pelo vento
uma bolacha-do-mar
oferece em seu centro
a solidão quase nua
despida pelo tempo.
Alexandre Bruno Tinelli
quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025
quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025
terça-feira, 25 de fevereiro de 2025
Quando chove
Em São Paulo, quando
chove,
chovem carros.
Tudo para:
pontes, viadutos, Marginais.
E a água retoma
seu curso original:
Anhangabaú, Sumaré, Pacaembu.
Ruas onde eram rios,
ex-rios, caminhos de rato, canais.
Rios sobre ruas,
Elevado, Via Dutra, Radial.
Em São Paulo, quando
chove,
chovem apocalipses
de quintal.
Frederico Barbosa
segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025
Toda escola devia ser samba, a canção
Toda escola devia ser de samba
Toda escola devia ser assim
de cantar
de trazer você pra mim
Toda escola devia ter essa ginga
trazer essa parte
que é mais vida
que é arte
Toda escola devia ser criança
ensinando adulto
Toda escola devia ser silêncio
sussurrando música
Toda escola devia ser noite
tramando dia
Toda escola devia ser samba
toda semana devia ser seu
carnaval
Paulo D'Auria
domingo, 23 de fevereiro de 2025
Goela
Ágatha Kreisler
sábado, 22 de fevereiro de 2025
A tempestade
Canibal, palavra latina,
à maneira de canis, animal
de fidelidade canina.
Nas Bermudas, sublime ironia,
será um vento cão e vai se chamar hurracán.
E quando o mar de lã
de repente apontar terra à vista
Então será Caliban.
Rodrigo Garcia Lopes
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2025
Hanishira e a moto amarela sobre a mesa do imperador
Hanishira ouviu o ronco do motor e isso fez com que ela saltasse da cama, de um só pulo e se pusesse em frente ao espelho do banheiro. Jogou, com as duas mãos, água gelada no rosto para ativar-se.
Era ele, tinha certeza, acabara de dobrar a primeira ladeira, virara a esquina lá em baixo. Subiu e ela o ouviria mais uma vez quando contornasse a segunda curva. Ele contornou. Estava mais perto. É ele! Sem dúvidas é ele: ele e sua moto amarela. Pensou apertando involuntariamente as pernas. Que sensação gostosa que fazia o motor da possante amarela enquanto pousava nela sua buceta! Só de pensar nisso ficou com muito desejo. O que esse cara havia feito com ela? Que tipo de feitiço era aquele?
Ouviu o motor silenciar em frente à casa. Rapidamente aplicou um blush e um rímel, apenas para ressaltar o olhar e ganhar uma cor. Ele assobiou. Isso é bom, lembrou que a campainha está com defeito. É sinal que pensou em mim, que tá ligado. Hoje, nada daquele papo tântrico, hoje eu parto pra cima dele e com sorte ele será o cara que terei coragem de falar: Vai, come a minha buceta! Abre ela todinha! Pronunciar essas coisas lhe enchia de tesão. Mas raras foram as vezes que ousou pronunciar na hora do ato sexual a palavra buceta. Só na cabeça, pensava, mas sempre usava outra nomenclatura: periquita, pão doce, preciosa, nomes assim. Talvez porque julgasse que uma mulher não deveria gostar de buceta, que pega mal. Que esse é um direito apenas dos homens. Mas ela adorava essa palavra, ficava louca. Mas até então só conseguia pensar nunca falava.
— Tô acordada. Tava lendo na cama.
— Tem hoje tempo pra praticar?
Tomou Hanishira nos baços e a beijou. Quando esses lábios se desgrudaram ela pôde sentir, o gosto do abacaxi com hortelã e o celular de João vibrar no bolso. Ele desligou automaticamente o que fez com que ela se sentisse muito importante.
— Eu devo me trocar.
Ela adoraria ter coragem de montar na moto daquele jeito, mas não era assim tão descolada. Correu até o quarto e teve vontade de colocar o guarda roupa abaixo. Uma saia e uma blusa surgiram como num passe de mágica, meias e a calcinha. De volta à sala. João a tomou pela mão e a conduziu até a moto. Ele sabia a pressão certa ao lhe dar a mão. Na noite do último encontro enquanto dissertava baixinho em seus ouvidos as maravilhas do sexo tântrico. Ele segurava pressionando sua mão de tal maneira que a fazia delirar. E também teve aquele momento dos pés, onde se tocaram, pé com pé. Que só em pensar já fazia Hanishira ficar totalmente molhada. Ao sentar-se na moto, a sensação do motor
De vez em quando ele falava algo para ela gritado para tentar ser ouvido apesar do barulho infernal que produzia a possante como ele mesmo a havia apelidado.
— Se chegar alguém eu arranco a tua roupa toda.
Falava baixo, mas desejando falar para fora, enquanto se mantinha de bunda para cima abriu os olhos e deu de cara com os olhos de João. Ele estava agachado olhando para ela, o mundo de cabeça para baixo, ela o via e sentia a sua mão. Ele colocou na própria boca uma folha de louro que tirou do bolso e levou uma outra a boca de Hanishira.
Ela percebeu que ali, ele dava um salto a mais em suas etapas da conquista. O que ele poderia querer mais? Já estava semi nua, entregue. É por isso então, ele quer magia! E teve as mãos dele dentro dela. Enquanto mastigou o louro amargo.
Ela não teve tempo de falar nada, Ele tapou lhe a boca e ela gostou. E pedia para ela manter os olhos abertos e ela fazia esse esforço. E se esforçou tão bem que suas pálpebras pouco se mexiam, estavam fixadas nos olhos negros de João, que agora tinha olhos e pau. Para ela, ele tinha apenas olhos e pau. Ela deitada na pedra, ele segurou suas pernas no ar e com jeitinho nem muito delicado, nem muito bruto, certeiro, meteu seu pau que entrou deslizando, encaixando em cada curva por dentro dela. Momento já sonhado por Hanishira.
Ela então não conseguindo mais conter falou em boa altura: Mete na minha buceta! E ter dado esse grito à fez jorrar para fora, como se ele despertasse nela sua verdadeira vocação.
— Tô metendo!
Ele arrancou a moto ladeira abaixo. De vez em quando entre uma curva e outra ele dava gritos.
Na Jardim Botânico engarrafada, ela continuava seu ritual de roçar os peitos nas costas de seu condutor. Os dois riam de prazer.
Depois desta trepada nunca mais voltaram a praticar nenhuma das doze lições de sexo tântrico, mas enquanto juntos, mantiveram o habito de se devorarem em lugares públicos.
Luciana Bezerra
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025
Tormento
Coisas que hão de te atormentar:
as reminiscências de um passado que
remoídas foram, muitas e muitas vezes;
lembranças de uma vida que você nunca teve;
oráculos sobre os sonhos que nunca vai realizar.
São essas as coisas que, para sempre,
irão te assombrar.
Thais Vicente
quarta-feira, 19 de fevereiro de 2025
Um poema de Roberta Lahmeyer
O céu desce
fica a dez centímetros de mim
Acho que se eu levantar a mão
posso alcançar uma estrela
Mas continuo imóvel
Pensando
Roberta Lahmeyer
terça-feira, 18 de fevereiro de 2025
Um poema de Iuri Mello
Eu odeio a métrica
porque o verso quebra
e eu fico na merda
uma hora penando
e a palavra não cabe
a métrica que se dane
Iuri Mello
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
Angra I
teu sono
que eu levo na esportiva
esse brinquedo de me deixar a sós
interpretá-lo
como as confusas placas que vão brotando
pela Avenida Brasil
por muito tempo indo
estávamos voltando
Ismar Tirelli Neto
domingo, 16 de fevereiro de 2025
CANÇÃO DO DESESPERO
Um homem bateu em minha
porta e eu abri. Senhoras e
senhores deitados no chão,
senhoras e senhores eu não
estou só, senhoras e senhores
meu filho está com fome e eu
moro na rua.
Daniel Viana
PLÁSTICO BOLHA: CHAMADA DE TEXTOS 2025!!!
sábado, 15 de fevereiro de 2025
Adeus ao grande Cacá Diegues

Um poema de Clara de Góes
Origami de silêncio
dobradura incomunicável
da morte _ a folha
em branco
Clara de Góes
O Céu da Língua, com Gregório Duvivier
Teatro Carlos Gomes
até 23 de fev de 2025, 19:00h
sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025
Os Ratos Embaixo da Cama de Selma
Encontrei Selma sentada no primeiro banco do Parque. Olhava fixamente para o portão, o braço sobre o encosto, os dedos com um cigarro espetado que se tragava sozinho, as pernas cruzadas, com uma sacola de compras, onde estavam suas roupas, repousando no assento. Apesar do rosto enrugado do tempo e dos abusos, seus olhos cor de mel lembravam uma beleza que ainda não havia se despedido por inteiro. Parei a sua frente, seus olhos continuaram no portão. Retornou de seus pensamentos quando o cigarro queimou seus dedos, mesmo assim, não expressou dor, havia superado a sensibilidade física desde muito tempo; arremessou o cigarro longe, puxou da sacola mais um, acendeu e não me olhou.
Fabrício Pinheiro
quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025
quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
POETINHA, de Daniel Viana
Tinha seis anos e recitava poesias
nas festas da escola, mas se
escondia atrás da mãe quando
alguém desejava bom dia.
Daniel Viana
segunda-feira, 10 de fevereiro de 2025
A minha heroína
domingo, 9 de fevereiro de 2025
Sintonia
Dentro de um profundo espaço,
Busco no fundo
De um grande vazio
Sua presença,
Que guardo em silêncio.
Nesta mansa manhã de verão,
Em que alguém que
Vagava sozinha,
De repente, encontrou
Você no caminho,
Com a doçura
Suave de uma grande melodia.
Eu, que bailava sem destino
No grito silencioso
Em busca de carinho,
encontro a felicidade
De ficar ao seu lado
A fim de aprender
A sintonia do amor
Marlene Reis
sábado, 8 de fevereiro de 2025
Caligrafia, de Paloma Roriz
Ninguém via,
mas aqueles siris na praia
correndo, de toca em toca,
com as patas (pinças, remos, estilógrafos)
riscando a areia lisa, lousa em grânulo —
escreviam.
Paloma Roriz
sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025
Pixo, de Iuri Mello
se abre
nas sacadas altas regulares
como textos cuneiformes
runas, escrita disforme
nomes mágicos
que só é dado a ler
aos iniciados
culto rupestre de jovens calado
marcam seus nomes
no templo de asfalto
Iuri Mello
quinta-feira, 6 de fevereiro de 2025
Um poema de Roberta Lahmeyer
Quando a poesia
atravessa a matéria e ilumina
certos subterrâneos
Roberta Lahmeyer
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025
Para vovó, de Guilherme Ottoni
Guilherme Ottoni
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
E POR FALAR EM AMOR
Sebastião e Lourdes estavam casados
há exatos 27 anos. Amor? Não,
pirraça mesmo.
Daniel Viana
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
domingo, 2 de fevereiro de 2025
Confidências Líricas
O que vou dizer
quando me perguntarem
quanto vale a palavra proferida
por uma boca falaz e ambígua,
mesmo que seja minha a boca?
"Não se fie no que diz a língua maldita.
Não dê valor a coisa tão vã e infeliz.
O ínfimo do infinito se fala,
mas o que se versifica
é aquilo que mais diz."
Thais Vicente
sábado, 1 de fevereiro de 2025
Os pais devem seguir tentando, novo texto de Eduardo Moraes
Fui acampar neste último feriado. Na barraca ao meu lado do camping tinha um pai com seu filho de 14 anos.
Não fiquei prestando muita atenção no conteúdo, mas fiquei imaginando o que eu falaria pra um moleque que um dia eu possa vir a chamar de filho. Ou filhão.
Falaria pra ele deixar o celular de lado e olhar um pouco o céu. Dar um mergulho, uma corrida, jogar uma altinha, trocar ideia com alguém.
Falaria para ele que as coisas custam dinheiro, normalmente não são baratas e que o presente momento é fruto do trabalho duro.
Falaria que tudo bem ele pintar o cabelo de roxo. Azul. Verde. Laranja. Porque o tempo passa, a cor vai embora, a vida acontece, novas cores aparecem e dá sempre pra colocar algo novo na cabeça.
Falaria pra ele que a vida não é fácil, mas que pode ser mais simples.
Falaria que o amor é complicado. Porque às vezes a pessoa não te ama de volta. E às vezes mesmo que ame, o amor não é suficiente.
Falaria que sentir alguns sentimentos é doloroso. Mas que outros são gostosos demais de experimentar.
Mas que amar é bom. Sempre bom, mesmo quando parece ruim.
E tudo isso entraria por um ouvido e sairia pelo outro.
Os pais tentam. E vão (e devem) seguir tentando.
Eduardo Moraes
segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
Ópera de pássaros
A objetividade de fotografia é uma falácia.
Erra quem acha que ela retrata o real.
O que há é que quando o fotógrafo diz:
— olha o passarinho!!
Uma ave de asas oblongas sai de dentro da câmera
com uma paleta de cores e um embornal de pinceizinhos.
Sobrevoa a cabeça do fotógrafo... sobrevoa a cabeça do fotógrafo
e de lá, pinta a cena.
Em suma, a fotografia é uma ópera de pássaros.
Chacal
sábado, 4 de janeiro de 2025
prova real
no final das contas
se não tiver escapado
por entre os dedos
não podia ser mesmo
o que se estava
procurando
Lucas Viriato
segunda-feira, 30 de dezembro de 2024
¿Cómo es tu familia?
pedra preta de dominó.
dividida em duas partes,
com seis pontos coloridos,
tem um ponto que está só.
Lasana Lukata
domingo, 29 de dezembro de 2024
Fim de ano com poema inédito de Fred Coelho
sábado, 28 de dezembro de 2024
SONHAREI CONTIGO
Fecho os meus olhos
e posso até imaginar você,
deitada ao meu lado
e eu te pedindo "faça devagar"...
Te sufocando com as minhas coxas.
Você com a voz rouca pede pra eu não gritar.
Trêmula, me jogo em seu corpo.
Ainda me recuperando do gozo,
quero também te amar.
Você luta, se esquiva...
Mas não consegue
E em meus lábios deixa escorrer
o melhor do teu prazer.
Fernanda Otoni
quinta-feira, 26 de dezembro de 2024
Um poema de Omar Salomão
Britadeira no ombro
Sem camisa
Coberto de poeira
Devagar
Desce a ladeira
Omar Salomão
segunda-feira, 23 de dezembro de 2024
domingo, 22 de dezembro de 2024
mirabel
você passa e fica
figura contra o sol
colada na retina
você me ultrapassa
fica a impressão
que se eu piscar o olho
presa você fica
você passa e brilha
farol na minha neblina
quando você passa
seu ectoplasma fica
Chacal
sábado, 21 de dezembro de 2024
PARTO NORMAL
o céu brilha
mas não são as estrelas de alegria
é um avião que parte
levando uma parte de mim
viver assim?
não sei se faz sentido
como partir pra vida
de coração partido?
Jonas Worcman
quinta-feira, 19 de dezembro de 2024
Lei da engravidez
— é grave doutor?
— não, é gravidez
fim da vida a dois
...somos três...
Luis Turiba
segunda-feira, 16 de dezembro de 2024
Um poema de Raïssa de Goés
Eu cuido de manchinhas na parede. Cuido para que permaneçam mais claras. O sol pode camuflá-las. Queimaria a cor. Voltariam a ser parede. Não. Eu cuido das manchas.
Raïssa de Goés
sábado, 14 de dezembro de 2024
Um poema de Matheus Hotz
o rosto do búfalo perdura entre
os retratos
o bicho é a memória da caça
é a memória do tiro é a memória do rosto
do bicho caçado
um, dois, três a largada
de novo é o dia do búfalo
teu sonho de homem
já não gosta da presa
mais do que gosta da caça
Matheus Hotz
quinta-feira, 12 de dezembro de 2024
cão
como se o cão
como tudo o cão
como come até a sombra
come a fome como tudo
e cobre uma cena como
o que está prestes a comer
como um cão qualquer
Gustavo Nagib
quarta-feira, 11 de dezembro de 2024
Prezado cidadão
colabore com a Lei.
colabore com a Light.
mantenha luz própria.
Chacal
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
inutensílios praga do pragma
poesia é inútil? sim,
como o amor, como o latim,
a esperança e o esperanto.
e tão necessária quanto.
Cairo de Assis Trindade
sábado, 7 de dezembro de 2024
Canção, um poema de Sergio Cohn
tanto passou
tanta paisagem
agora só sei
por terceiros
vez por outra
você rompe
e recomeça
o mesmo
espero que
ou
Sergio Cohn
quinta-feira, 5 de dezembro de 2024
Nomes
Riscos lentos se fazem necessário
Nas fraudes dos meus olhos
Lista com os dedos já feridos
As feridas que te cobrem
Agulhas encravadas em minha íris
Fermentam lágrimas de amônia
Longe de serem anônimas
Nomes
Marilene Vieira
segunda-feira, 2 de dezembro de 2024
Golpes
Golpes delicados
peles arranhadas
vísceras comprimidas
mãos aflitas
se esforçam no crime perfeito.
Ligeiros sorrisos
infinito desdém
coração doendo
vingança chegando
voz amada e inimiga
dizendo
— vem!
Sergio Barcellos
sábado, 30 de novembro de 2024
mania
roer as unhas morder os lábios
beliscar os pulsos se você não ligar
estar sempre eu contra mim mesma
mas para não matar não morrer
preferir as palavras
com seus cumes prazeres
enigmas
Marcella Mahara
sexta-feira, 29 de novembro de 2024
e as couves
e as couves de bruxelas?
quem
— a não ser eu —
ouve elas?
ninguelas
ninguelas
Chacal
deixa pra lá
sabe essas unhas do pé
que a gente tira com a mão
pra ficar brincando? pois é,
naquela loucura toda
perdi a que mais gostava
Chacal
quinta-feira, 28 de novembro de 2024
Preguiça
E assim me pego
replicando bocejos,
adiando concretas experiências,
anestesiando existências.
O tempo passa em slow motion
nessa tarde vazia e sem nome.
Waldecy Pereira
segunda-feira, 25 de novembro de 2024
Mercadoria
Metal banido pelos céus
As notas indigestas
se estampam nas vitrines
subindo e descendo
na corda-bamba
Olhos se seduzem
pela mercadoria
em fatias de ilusão
O mendigo, alheio a tudo
esculpe sua face no céu.
Alexandra Vieira de Almeida
sábado, 23 de novembro de 2024
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Músculo
[...]
tua predileção por grão-de-bico e Di dançando
porque finalmente há ritmo. Se nós não morremos
de tédio
é porque existe o fluxo das fragatas
e se Deus
não for o fluxo das fragatas
eu não sei o que mais poderia
ser.
Catarina Lins
segunda-feira, 18 de novembro de 2024
Um poema de Reynaldo Bessa
o silêncio
do meu irmão
doía mais
que as pancadas
do meu pai
Reynaldo Bessa
sábado, 16 de novembro de 2024
O primeiro dia
vendavais de amplictil
acalmam o silêncio
etílicos deitados
bebendo seu gardenal
o cérebro sufocado
a química cerebral
antenas recebendo
doses de fenergan
masturbam-se velas
pílulas bailarinas
a noite flutua
horrenda tarde
aqui a dentadura
me fala sombras
Rodrigo de Souza Leão
quinta-feira, 14 de novembro de 2024
Um poema de Daniel Rolim Rocha
gosto de conversas dosadas
por isso, quando vou falar com você,
tomo três doses de tequila
com sal e limão na borda da língua.
Daniel Rolim Rocha
quarta-feira, 13 de novembro de 2024
segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Andorinhas
Têm chovido andorinhas
umas mortas, muitas vivas
Têm caído segredos do céu
algumas facas, muitos vidros
Mas nenhum me conta mais
minha dor voou para longe
deixou aqui andorinhas
várias, porque é verão
Raphaela Ramos
sábado, 9 de novembro de 2024
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
Um poema de João Paulo Gonçalves
Insisto
no rastro de quem tempos atrás
passou pela minha vida. Chego
perto apenas da sombra do abajur.
João Paulo Gonçalves
segunda-feira, 4 de novembro de 2024
sábado, 2 de novembro de 2024
Um poema de Yassu Noguchi
in your eyes
encontrei motivos
pras contas de luz, água e gás
Yassu Noguchi
quinta-feira, 31 de outubro de 2024
tragédia doméstica — 1º ato
— tô ficando maluco!
digo com ar grave de quem enxerga luz
no escuro
ela me encara e bebe suco
Caio Carmacho
quarta-feira, 30 de outubro de 2024
bem-vinda
ressarcir
engendrar
a toda hora
em todo lugar
nasce uma palavra
— bem-vinda!
quando perderes o sentido
esvoaça daqui
descansa em paz
Chacal
terça-feira, 29 de outubro de 2024
Crepuscular
Ainda poder
escutar a Musa,
embora já imerso
na sombra difusa
que vai se adensando
para se fazer
uma treva de
nunca amanhecer.
Ainda poder
Chegar à extrema
duração do dia
na voz de um poema,
mesmo humilde, apenas
suspiro da Musa
num adeus à beira
da noite difusa.
Ruy Espinheira Filho
segunda-feira, 28 de outubro de 2024
Som
Gosto de ouvir
o som dos seus dentes rangendo
quando sobre mim e junto a mim
procura a explosão do gozo.
Rosilene Jorge dos Ramos
domingo, 27 de outubro de 2024
Roda
Enrubesci.
Peguei a raiva
e rodei o mundo
que cabia debaixo da minha saia.
Ela virou pó,
Eu — movimento
Jade Prata
sábado, 26 de outubro de 2024
Um poema de Bruna Escaleira
sexualidade
ou imensidão
no oceano da pele
nado em águas livres
Bruna Escaleira
quinta-feira, 24 de outubro de 2024
Um poema de Ana Chiara
Beija-flor parado
Tremor de asas
Também viaja
Suga alegria
Por deslocamentos mínimos
Ana Chiara
quarta-feira, 23 de outubro de 2024
Operando a manhã
Um saco pleno de gemas,
algo assim como um câncer luminoso,
E um bisturi afia a ponta da sua lâmina sobre a fina pele.
Repente
Amarelo!
Não é preciso nenhum galo
Para anunciar o amanhecer.
Lucas Matos
terça-feira, 22 de outubro de 2024
Miramar
Pôr-do-sol em Miramar.
A faixa de areia é ampla, branca.
As mulheres indianas, floridas, coloridas.
O mar aquietado do sul, azul.
O sol que encosta no espelho, vermelho.
Momentos para serem lembrados, dourados.
Miramar.
Sem trocadilhos, sem referências.
Somente o sol se pondo na praia
Lucas Viriato
segunda-feira, 21 de outubro de 2024
Bumerangue
As palavras,
lancei-as
ao mundo.
O vento,
agressivo,
trouxe-as
de volta.
Me golpearam!
Bianka de Andrade
domingo, 20 de outubro de 2024
Naná
silêncio das estrelas
fumaça branca
que atravessa o céu
fumaça d'água
que jorra forte de dentro do estreito de uma pedra
sopro divino do céu
duas estrelas
me miram
como dois olhos
sinto a presença dela
meu coração se inunda
e transborda
pelos meus olhos embaçados
fumaça que escorre pelo canto da minha face
Mônica B. Alvim
sábado, 19 de outubro de 2024
Trinta e nove no ibope
O playground no jardim.
A menina no jardim.
Seu corpo não brinca no playground.
Israel Antonini
sexta-feira, 18 de outubro de 2024
Elemento
Palavra nenhuma existe.
Existem o fogo, a pedra, a água, o ar.
E a dor, dissimulada no verso.
Paloma Roriz
quinta-feira, 17 de outubro de 2024
quarta-feira, 16 de outubro de 2024
Lucidez
Estou perdendo a visão, mas não estou perdendo você. Tenho sua aliança junto à minha, lado a lado, em meu dedo. Com isso sinto que o nosso amor está cada vez mais vivo. E assim será até a hora do nosso reencontro, quando estaremos juntos para sempre. Em breve, na eternidade.
Marina V. Medeiros
terça-feira, 15 de outubro de 2024
Um poema de Nadiá Paulo Ferreira
Gotas rubras
no vértice
do meu corpo
Sou vaga sísmica
entre mulheres azuis
Onde o nada me espreita
espedaço-me flamejante
na imensidão da areia branca
Nadiá Paulo Ferreira
segunda-feira, 14 de outubro de 2024
Colapso
não restou nem poeira
da rotina de folhas e caminhadas
necessidade não é fraqueza
necessidade é necessidade
não sei o que dá mais medo
encontrar algo
ou não encontrar nada
Mauro Santa Cecília
domingo, 13 de outubro de 2024
Vento vadio
ás vezes vem um vento
e levanta a aba do pensamento
jogando meu chapéu
pra lá da possibilidade.
Chacal
sábado, 12 de outubro de 2024
sexta-feira, 11 de outubro de 2024
Azul mar
Sinto muita saudade
de você, tem dias que eu sinto
que sou ilha perdida
no meio de tanto mar
como fui me separar?
de um continente tão forte
deixei pra trás
muita terra segura
passei por tempestades
tormentas, chuvas imensas
e agora uma calmaria
em que paro tudo
e observo do mirante
o oceano, atlântico,
pacífico, gigante
Rafael Magalhães
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
quarta-feira, 9 de outubro de 2024
Fênix
voo alto no céu
compartilho da chama
que se forma canção
música vibra na alma
o milagre da transmutação
Marcela Sperandio
terça-feira, 8 de outubro de 2024
Se livrando das pulgas sem pesticidas
No meu ouvido
Narrando a rota de fuga
Convenceu a mente que julga
E isso quase me derruba
Deus que me acuda, me dê arruda
Pra esse perigo
Quase que eu me torno
Meu pior inimigo
Mas não, sou meu melhor amigo
E digo:
Não embarque nessa viagem
Tendo o medo como bagagem!
Jonas Samaúma
segunda-feira, 7 de outubro de 2024
descrição alguma
essa escritura calada
essa tamanha bebedeira
esse arrependimento de matar
essa falta de assunto
essa vontade finita
de sair daqui
André Monteiro
domingo, 6 de outubro de 2024
O amor mudou-se
Agora possuo uma mancha escura
As praças já não possuem os portões abertos de quando cheguei aqui
O amor mudou-se
A estrada de ferro eu abandonei
As fotografias que tirei na Central do Brasil
Foram arquivadas para chorar depois
Eu vesti a roupa devida
Mas não disse a palavra certa
Marilene Vieira
sábado, 5 de outubro de 2024
sexta-feira, 4 de outubro de 2024
Um poema de Lorena Martins
a noite no sofá
é pele
cascata
que não alcança
a janela.
as tardes
se trancafiam
nos cantos da sala:
desperto
meu bonde abandono
a mão no parapeito
e minha garganta
que voa.
Lorena Martins
quinta-feira, 3 de outubro de 2024
quarta-feira, 2 de outubro de 2024
Às vezes , ócio
às vezes choro,
pois no choro lavo a alma.
ás vezes, oro,
pois a fé me acalma.
às vezes, calmo,
em profundo silêncio,
não preciso falar a vivalma,
apenas viver meu ócio.
Giovani Miguez
terça-feira, 1 de outubro de 2024
Um poema de Paulo D'Auria
Feito um menino que levantasse a lona do circo,
espiava debaixo da linha do horizonte.
Aprendeu a dar risada do destino.
Paulo D'Auria
segunda-feira, 30 de setembro de 2024
domingo, 29 de setembro de 2024
Vozes do cerrado
brasília, brasília,
onde estás
que não respondes?!
em que bloco,
em que superquadra
tu te escondes?!
Nicolas Behr
sábado, 28 de setembro de 2024
Fósforo
Breve pedaço de madeira,
em atrito contra a superfície áspera,
dura, impassível.
Não ceder, mas romper-se, incandescente.
O fogo, o lume,
que súbito se apaga.
Paloma Roriz
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
A DANÇA DOS TEMPOS POSSÍVEIS
O passado não dorme
nem jazz.
Recusa a quietude
da memória
mas sem me chamar
para dançar.
Gira mudo e sozinho, sozinho,
entrecruzando meus caminhos
presentes, lançando ao ar
o perfume em torvelinho
de passados outros, e presentes, e futuros
que poderiam ser, e ter sido, e contudo...
Thássio Ferreira
quinta-feira, 26 de setembro de 2024
Um poema de Danilo Diógenes
[...]
digamos
que todo poema
é aquilo que sobra
de uma pessoa;
almoçar, então, ao lado deste poema
é almoçar ao lado de qualquer pessoa
é construir as rampas que nos guiam para o alto
e as escadas que nos levam para baixo
Danilo Diógenes
quarta-feira, 25 de setembro de 2024
Shopping Trem Tudo
Ilustres passageiros,
Solange Valeriano Pinto
terça-feira, 24 de setembro de 2024
poesia
a minha poesia é lírica
tem a beleza bucólica
do voo de uma andorinha
tem o latido melancólico
de um cachorro campestre
tem a solidão jururu
de uma galinha ciscando
mas o que ela queria mesmo
era ter...
a força do tigre
a astúcia do coiote
a agilidade do jaguar
e o mistério do morcego
Jovino Machado
segunda-feira, 23 de setembro de 2024
"shakespeare"
se nós escrevêssemos
tudo o que sentíssemos
estaríamos sempre sós
e para sempre ocupados
porém não tão infelizes.
Leonardo Marona
domingo, 22 de setembro de 2024
DESPEDIDA
Quando eu morrer,
filhinho, não se
esqueça de colocar água
com açúcar no potinho.
Te visitarei disfarçado
de beija-flor.
Daniel Viana
sábado, 21 de setembro de 2024
AUTREMENT
ecos do dia
num caleidoscópio
movem-se lentas larvas
entre palavras e coisas
In other words:
ninguém sonha em prosa.
Patrícia Lavelle
sexta-feira, 20 de setembro de 2024
quinta-feira, 19 de setembro de 2024
quarta-feira, 18 de setembro de 2024
terça-feira, 17 de setembro de 2024
Viento ligero
Un viento de recuerdos
atravesó mis sueños,
ha traído su olor
rojo, sin dueños.
Mi dejarte
sola, embarazada
de calidez y libertad.
Jade Prata
segunda-feira, 16 de setembro de 2024
Destino
Eu sou um trem de ferro
Que leva minérios
No coração.
Eu sou um trem de ferro
Que traz histórias
No vagão.
Eu sou um trem de ferro,
Seguindo os trilhos
Da palma da minha mão.
Petrônio Souza Gonçalves
domingo, 15 de setembro de 2024
A LENDA
Pouco se sabe dos Passarinhos Verdes.
Apenas que eles nos procuram
para se alimentar das surpresas.
Pousam em galhos discretos
e se escutam:
— Olha! Um pass...
Voam para longe, felizes por
terem completado seu destino.
Pedro Lago
sábado, 14 de setembro de 2024
PERDEU-SE
dançarina baiana perdeu o rebolado nas areias de copacabana. quem encontrá-lo, é favor devolvê-lo.
muito mais que monetário, ele é de inestimável valor afetivo para sua dona.
mary saravá
7407-0198
Letícia Féres
sexta-feira, 13 de setembro de 2024
contração do fim de um mundo
No opositor me encontro,
encontro eu, você e a fera.
No opositor me escondo,
escondo eu, você e a fera.
No opositor penso que penso,
mas na verdade é fera, fera e fera.
Luiz Fernando Priamo