De volta à vida mesma, acho-me perdida e manca, encontro-me encafifada com o fio da meada que já não tenho mais. De volta à vida mesma, mastigo montes de miséria, medíocre marcha espinhosa e fútil, martírios longos e morosos. De volta à vida, mesmo assim acho-me morta, metade de mim sem ar, metade de mim alerta. De volta, a vida me acena mesmices, misantropias e morbidez, e eu me meto a correr dela, medrosa, mendiga. De volta à vida mesma, minimamente masco o que a mim me é destinado, e o que não se torna massa ou bolo alimentar eu cuspo fora meramente. De volta à vida, mesquinharias me fazem meter os pés pelas mãos, imitando o que não posso ser e mansamente retornando ao meu lugar. E de volta, a vida? Longa, magra, megera. Maligna até! Me espera, malandra, querendo rir de mim, a vida mentecapta que a mim me restou, queimando minhas quimeras, mantendo-me maluca, amarrando-me a uma total melancolia, sem medida mas quase sempre domesticada.
.Vivian Pizzinga
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Vivian Pizzinga estreou na edição #24 com a coluna Para ler em voz alta, com poemas altamente sonoros. Nossa Gertrude Stein do Plástico Bolha acaba de enviar mais dois textos para a coluna e aproveitamos para divulgar um deles aqui. Em breve, também nas páginas do PB!
6 comentários:
Moça de talento...
Só posso esperar por mais dessas linhas nessas publicações.
Festejo o blog!
E a ela mesma...
adorei o texto! Parabensa escritora/poetisa !! ;)
Espero mais tb!
Clarisse Dias
Belíssimo texto. De uma musicalidade e sensibilidade incríveis.
Parabéns à jovem escritora Vivian, parabéns ao Plástico Bolha, que já conheço há algum tempo.
Nânie
Privilegiado sou eu que tenho a honra de conhecer a Vivian pessoalmente. Ela nunca me enganou: por trás daquele rostinho tímido havia uma tremenda energia que agora explode em textos lindos.
Beleza, Vivian.
Bjs
Luiz Antonio
texto fantastico, existencialista e musical.
um grande talento
UAU!!!! Meio que fiquei sem palavras, sem fôlego... Que texto! Incrível. Fortíssimo. Belíssimo.
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