terça-feira, 10 de agosto de 2010

Aflitos — um texto de Marcus Paulo Eifflê

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A aflição é um formigamento de incerteza e temor. Qualquer despreparo para a espera fria e calculada de uma ideia que se faz sobre uma condição não pretendida que a mente faz iminente e as formigas sobem nosso corpo, transformando a inquietação numa sensação horrível, onde só uma boa distração é capaz de aliviar ou mesmo suplantar o mal crescente. Como, por exemplo, a execução de técnicas manuais apaziguadoras aos nervos sobre o corpo aflitivo praticadas por um símbolo sexual desses da moda. Ou uma sessão de massoterapia, que é o que eu quero dizer.
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O sublime nos males humanos (sim, sublime) é que, com um pouco de paciência, tudo tem um paliativo. No mínimo. É o que salva a gente do escape máximo dos aflitos e desesperados: o suicídio. O suicídio é um paliativo sem graça, além de vexatório. Não se corre pro vestiário enquanto o juiz está dando tempo de jogo. Todo time tem alguém na torcida e esta torcida está pronta para te levantar nos braços se você mostrar ao menos espírito de luta. Para que se erguem bustos em passeios públicos e nomeiam ruas por aí? Demonstrações de reconhecimento. Nossa alma clama é por reconhecimento.
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Mas o melhor mesmo é quando você encontra uma fã pronta para ceder aos impulsos máximos da idolatria. Pense na possibilidade. Aflição é apenas um sinal que você tem imaginação demais para o lado desfavorável da situação. Aflito, não desespere.
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Marcus Paulo Eifflê
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