I
fico imaginando você
pelas ruas de São Paulo
brincando com gatos
abrigando saudades
e tentando entender
se esse amar é
mesmo amor
II
o rabo do gato ficou pra trás
varrendo o que ficou
caído no chão enquanto
o corpo carregava já
na frente memórias do
amor que ainda nem é
eu queria mesmo era conseguir
não falar sobre os gatos
mas os gatos parecem
palavras que acontecem assim
de repente
III
e se todos os gatos
de repente virassem poemas
você andaria por São Paulo
tentando encontrar algo novo
para aprender a gostar
já que eu peguei todos
os gatos e coloquei
onde você provavelmente
estaria hoje
mesmo que ainda não há
nada que substitua você
nos poemas de amor
IV
quando eu menos espero
aparecem gatos
em minha memória de peixe
e eu sei lá
acho engraçado colocar
gato e peixe
num mesmo poema
V
não sei ser forte perto dos gatos
me tremo inteira
é como se eu tivesse comido jambu
prefiro sentir saudades
VI
todos os gatos saíram do poema
eu avisei
estão todos mortos aqui
Alice me espera na piscina
preciso sair depressa desse jardim
tropeçar nos gatos agora
seria o mesmo que apertar
errado o botãozinho de um
jogo de campo minado
Ana Luiza Gonçalves
segunda-feira, 10 de novembro de 2014
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