terça-feira, 18 de novembro de 2014

CONVERSA DE OUTUBRO

(ou daquilo que escrevi e vendi debaixo do sol e como cheguei até aqui, minha jornada)


Em casa o medo de sair
Esbarrões e cotovelos não marcam hora
Enquanto isso, lá fora, rastejam duas senhoras
Numa típica conversa de outubro:
"Meu Deus, que calor!"
"Ainda vai piorar, eu garanto
Na cidade (grande) há muito calor e muito pranto."
Elas parecem mesmo esclarecidas
Mas são de fato esclerosadas
As cucas cozinhadas
Como acontece a todos na cidade
São seis meses… verão maldito
[passa um mosquito]
Agora conte o efeito dos anos
E não são poucos, ainda
Os que vão na praia aos Domingos
Condenados por um terrível mal
Torrando debaixo do sol

Mas afinal, é preciso ir pra rua:
“O homem que sai de casa merece ser aplaudido!”
O porteiro me encoraja, ele sabe, nobre a missão
Sou o supercomum!
Meu destino é a padaria
Minha tarefa, comprar pão
É ali do lado
Andando a pé eu posso ser roubado
De ônibus também
E o motorista é um doido
Ou talvez um mago, inventando espaço

A pressão toma conta da cidade
Na batalha do ônibus com o carro com as pessoas
Não há mais espaço na ladeira, nem na calçada:
Um andaime sinaliza “passagem de pedestres”
e o ônibus para, não há que fazer
As senhoras aflitas não entendem: “o motorista deve tá encachaçado”,
“esse inspetor é uma bicha”
Pobres diabos;


Marcos Padilha

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