terça-feira, 4 de novembro de 2014

um poema de Amanda Milani


minhas veias estão
desencapadas
e o ponto onde está a
incisão
sangra poesia.
eu estou nua
como estive
pelos cantos do teu
quarto, desenfreado
escondido dentre
cortinas e lençóis
caros
como as palavras destemidas
protegidas
num diário
que eu nunca escrevi,
porque faltava coragem.

eu não aprendi a
lidar com o teu
corpo
ausente.
um pouco ao lado
e um pouco atrás
de onde deveria
estar,
sentado
numa cadeira
pra estudar
morrendo
sem nem ver morrer
devagar
nos intervalos de almoço

eu penso e
repenso e
revejo as
cenas.
no entanto
não posso
mudar o que
você fez,
ainda que
eu queira
poder
voltar atrás
como se a vida
fosse uma fita cassete
pra arranhar o
instante em que
você arruína
tudo.
e, ainda assim,
esse mural
de camurça
parece ser um
bom lugar
para recostar.
pra te ver
sozinho
na sala em frente
em diagonal
pondo a
cabeça
entre as mãos
que quase tocam
os joelhos.

num instante
me esqueço
da dor
e da
humilhação.
parece que
nem me importa mais.
mas não me permito.
quando finjo pra
mim mesma
que você talvez
possa
ser
tão profundo e
tão sensível quanto
eu te idealizei,
eu abro mão
de
ser
real.

(e a realidade é o que separa amar o você que idealizei de amar o abusador que você de fato é)

Amanda Milani

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