sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Filete vermelho


Como és bonito filete vermelho
E como escorres pelo meu braço!
Olho-te angustiado do chuveiro
E os pingos de água, com descaso,

Diluem-te, mas não a minha dor.
De novo, a escorrer, a escorrer.
Da vida à miséria no amor.
Filete que representa tudo, o morrer!

Filete triste, por mim almejado,
Te desfaz pelo meu braço, cortante.
Agora, pelos pingos vermelhos aguados,
Vejo-te longínquo, febril e distante.

Vejo-te findo, a escorrer bonito,
Que dor, que tristeza eternizarás?
Transportaste-me para além do infinito,
Que dor não amenizarás?

Tu, filete vermelho da rósea flor,
Que escorres pelo meu braço.
Como é lindo o olvidado amor!
Como a dor é forte, feito aço!

Mas tu um dia hás de findar
E por mais que no meu braço escorras,
A dormência do meu amar,
Tu não farás com que ela morra.

A respiração, agora irregular,
E tu continuas a escorrer.
O pulso parando de pulsar,
Tu olhas frio, o meu morrer!

Quais tristes sentimentos foram vividos?
Tu és tudo e simplesmente o que me resta.
Que vida frívola, entorpecida e sem sentido
Foi friamente pensada dentro de minha testa?

Cor viva! Cor vermelha! Cor amada!
Por favor! Leva-me e deixa-me mais tranquilo!
Mostra-me tudo, mostra-me o nada,
Conforme durmo sob as folhas de mirtilo...

Guilherme Ottoni

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