Cercado de rosas de plástico,
entre luzes verdes bem pequeninas – às vezes – vermelhas, lá estava ele – seu
retrato. Lutava contra o dragão enorme – já quase desfalecido – sangrando junto
às patas de seu cavalo. Depois vim a saber que era São Jorge.
Me perguntava como podia
enfrentar aquele bicho tão enorme? E o olho de seu cavalo? Daquele cavaleiro –
de onde vinha tamanha coragem?
De uma prateleira qualquer em
frente a uma mesa velha e escura ou dentro de uma cristaleira ao som da
Ave-Maria, aquele retrato espalhava no ambiente um facho multicor, um clima de
magia, de mistério – um clima de Deus – que penetrava em todos os cantos das
casas da vila do subúrbio onde eu morava. Depois o encontrei nas padarias, nas
farmácias, nos armazéns do bairro como guardião desses estabelecimentos.
Os retratos de São Jorge, da
Virgem Maria e os pirulitos e as balas de São Cosme e São Damião alimentavam
essa gente pobre e corajosa do subúrbio do Rio de Janeiro. E assim, apesar do
cansaço dos dias insípidos de trabalho mal remunerado, sentia-se a alegria
pelas calçadas do meu bairro.
Ah, essa coragem perdida! Ah, essa maneira
David e Golias de existir!
Rosália Milsztajn
Nenhum comentário:
Postar um comentário