sábado, 9 de setembro de 2023

Biodiversidade, de Paulo Henriques Britto

Há maneiras mais fáceis de se expor ao ridículo,
que não requerem prática, oficina, suor.
Maneiras mais simpáticas de pagar mico
e dizer olha eu aqui, sou único, me amem por favor. 


Porém há quem se preste a esse papel esdrúxulo,
como há quem não se vexe de ler e decifrar
essas palavras bestas estrebuchando inúteis,
cágados com as quatro patas viradas pro ar. 


Então essa fala esquisita, aparentemente anárquica,
de repente é mais que isso, é uma voz, talvez,
do outro lado da linha formigando de estática,
dizendo algo mais que testando, testando, um dois três, 


câmbio? Quem sabe esses cascos invertidos,
incapazes de reassumir a posição natural,
não são na verdade uma outra forma de vida,
tipo um ramo alternativo do reino animal?

Paulo Henriques Britto
Paulo Henriques Britto, além de poeta, escritor, professor e um dos maiores tradutores em língua inglesa do Brasil, também sempre ministrou, ao longo da vida, diversas Oficinas de Poesia. É das oficinas do Paulo que saem muitos dos poetas que vêm estrelar as páginas e os espaços do Jornal Plástico Bolha. Ao longo desse e dos próximos meses, alguns poetas inéditos que estão sendo publicados aqui cursaram sua última oficina, no primeiro semestre desse ano. Sejam bem vindos!

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