sexta-feira, 22 de setembro de 2023

Fantasmas, um poema de Gabriel Harle


Afoguei-me. 
Afundei, de mãos atadas,
dentro de meu aquário.
O ar, abandonando meu peito,
retornando à superfície e se distanciando
Me fazendo despencar
Me fazendo um com a água.
A mesma que esmagava meu peito
transformava-me gota,
transformava-me mar
Levado pela corrente.


Braços abertos ao alcance de Morfeu.
Extensos ao acaso,
mas sem desejo de movê-los.
O deus, no ponto mais profundo,
recebeu-me calma e seriamente
com uma expressão neutra, indiferente.
Olhos fechados, 
preparado para atingir a areia,
receoso de sentir seu áspero toque
Ansioso, apavorado.

Subitamente, o oxigênio restante em meus pulmões,
como uma bactéria a se multiplicar,
inunda meu ser, emergindo-me à superfície
e elevando além dela.
A brisa, morna e acolhedora
evocante das praias de Cabo Frio,
gentilmente envolve meu ser em um caloroso abraço 
transformando-me vento,
transformando-me ar
Livre pelo céu.

Gabriel Harle

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