(por Ana Couto Paiva)
. .A despeito de todas as críticas feitas ao livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do autor supracitado, resolvi eu mesma fazer um registro das minhas impressões sobre alguns pontos da obra, sem o objetivo de discutir a veracidade de seu conteúdo (até mesmo pelo seu caráter de ficção).
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Não obstante Saramago, o famigerado autor português, seja um cético, este conseguiu relatar, de maneira peculiar, a vida de Jesus Cristo, mártir das igrejas cristãs, reduzindo, por assim dizer, sua vida em todos os seus aspectos a uma passagem humana e improvável pelos seus seguidores.
Não obstante Saramago, o famigerado autor português, seja um cético, este conseguiu relatar, de maneira peculiar, a vida de Jesus Cristo, mártir das igrejas cristãs, reduzindo, por assim dizer, sua vida em todos os seus aspectos a uma passagem humana e improvável pelos seus seguidores.
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As passagens bíblicas, tangentes à vida de Jesus, não pormenorizam sua porção “humana”, mas traçam o perfil do “filho de Deus”, envolto de uma santidade irrefutável.
As passagens bíblicas, tangentes à vida de Jesus, não pormenorizam sua porção “humana”, mas traçam o perfil do “filho de Deus”, envolto de uma santidade irrefutável.
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Os pontos mais polêmicos do livro, a meu ver, são a relação de Jesus e Maria de Magdala (hodiernamente tão discutida por agnósticos e mesmo por historiadores), e o malfadado fim de Judas de Iscariote.
Os pontos mais polêmicos do livro, a meu ver, são a relação de Jesus e Maria de Magdala (hodiernamente tão discutida por agnósticos e mesmo por historiadores), e o malfadado fim de Judas de Iscariote.
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O “Jesus” de José Saramago é renitente, lacônico (já o era antes, biblicamente), taciturno; amarga uma culpa herdada pelo pai terreno, José, e cede às tentações da carne, quando opta por viver em concubinato com Maria de Magdala.
O “Jesus” de José Saramago é renitente, lacônico (já o era antes, biblicamente), taciturno; amarga uma culpa herdada pelo pai terreno, José, e cede às tentações da carne, quando opta por viver em concubinato com Maria de Magdala.
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Não se fala, como outros autores o fazem, na descendência dos concubinos, mas na forma mais humana possível de uma relação entre um homem e uma mulher, sem geração de frutos.
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Não se fala, como outros autores o fazem, na descendência dos concubinos, mas na forma mais humana possível de uma relação entre um homem e uma mulher, sem geração de frutos.
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Jesus, após alguns anos passados distante da família, retorna ao lar com o intuito de revelar aos seus a sua condição suprema de filho de Deus. Contudo, no caminho de volta, passando por Magdala, bate à porta de Maria, sem saber quem lá morava ou de que ofício tirava seu sustento. Tendo os pés feridos pela caminhada, procurava tão-somente quem pudesse aliviar sua dor.
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Impressionado com as formas da mulher, de idade superior à sua, com seu perfume, com o tratamento que dela recebe, acaba cedendo aos seus encantos de meretriz; impressiona-se ainda com sua cama luxuosa e com a estranha intimidade que cria com ela.
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Retornado ao lar, e diante da descrença de sua família em relação à sua origem divina, termina por voltar ao seio de Maria de Magdala, donde fica por algumas semanas, vivendo com ela até o fim de seus dias.
Retornado ao lar, e diante da descrença de sua família em relação à sua origem divina, termina por voltar ao seio de Maria de Magdala, donde fica por algumas semanas, vivendo com ela até o fim de seus dias.
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Nada surpreendente para os tempos modernos. Todavia, pensar numa relação primordialmente carnal, sobretudo há dois mil e nove anos (um pouco mais), é quase impossível! Jesus teria tirado Maria Magdalena da vida até então prostituída para viver com ela em prostituição.
Nada surpreendente para os tempos modernos. Todavia, pensar numa relação primordialmente carnal, sobretudo há dois mil e nove anos (um pouco mais), é quase impossível! Jesus teria tirado Maria Magdalena da vida até então prostituída para viver com ela em prostituição.
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Inimaginável tal situação, não pelo fato em si, mas pela época em que teria ocorrido. Amavam-se, entendiam-se como amigos; mas viviam em concubinato. À exceção de qualquer influência religiosa, nem nos meus pensamentos mais liberais conseguiria admitir a hipótese de Jesus viver essa relação com Maria Magdalena.
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Não seria menos louvável o Nazareno se com ela se tivesse casado. Mas repito: inadmissível seria naquele contexto histórico, e, portanto, improvável, que vivessem ambos tão liberada relação e, cumpre-se dizer, tão humana (mais, impossível).
Não seria menos louvável o Nazareno se com ela se tivesse casado. Mas repito: inadmissível seria naquele contexto histórico, e, portanto, improvável, que vivessem ambos tão liberada relação e, cumpre-se dizer, tão humana (mais, impossível).
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No tocante a Judas de Iscariote, este teria se resignado a ser eternamente condenado pela humanidade.
.No tocante a Judas de Iscariote, este teria se resignado a ser eternamente condenado pela humanidade.
Prestou-se o discípulo à árdua tarefa de denunciar Jesus às autoridades romanas, para que fosse preso, julgado e condenado. Observe-se: a pedido do próprio mestre, quando os demais se recusaram a fazê-lo. E ao praticar tal ato, mesmo provando sua lealdade, tão arrependido ficou, que pôs fim à própria vida, suicidando por enforcamento.
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Aqui, concordo com o autor, pois me parece impossível pensar que, já sabendo Jesus de seu destino, fosse surpreendido pela traição de um dos seus seguidores.
Aqui, concordo com o autor, pois me parece impossível pensar que, já sabendo Jesus de seu destino, fosse surpreendido pela traição de um dos seus seguidores.
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Foi Judas o grande traidor ou o fiel incondicional? Mais pertinência tem a segunda hipótese, e mister ressaltar a valorosa coragem do apóstolo, não só a de cumprir a difícil tarefa, como a de suportar para sempre a condenação póstuma.
Foi Judas o grande traidor ou o fiel incondicional? Mais pertinência tem a segunda hipótese, e mister ressaltar a valorosa coragem do apóstolo, não só a de cumprir a difícil tarefa, como a de suportar para sempre a condenação póstuma.
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Por fim, a leitura dessa obra tão polemizada e alvo de censura até, é das que eu recomendo para quem ainda não a fez.
Por fim, a leitura dessa obra tão polemizada e alvo de censura até, é das que eu recomendo para quem ainda não a fez.
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O aspecto totalmente humanizado — e concomitantemente anticristão — que Saramago confere ao personagem principal, a completa diferenciação desta história à já conhecida versão bíblica, nos remete a um outro universo, desconhecido, e nem por isso, menos intrigante.
O aspecto totalmente humanizado — e concomitantemente anticristão — que Saramago confere ao personagem principal, a completa diferenciação desta história à já conhecida versão bíblica, nos remete a um outro universo, desconhecido, e nem por isso, menos intrigante.
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Um comentário:
Saramago valorizou a vida de Cristo em todos os seus aspectos trazendo-o para perto de nós.
Para mim, de longe seria um dos pontos mais polêmicos do livro o fim de Judas e as relações de Jesus e Maria de Magdala. O livro já começa revelando relações sexuais entre José e Maria; o pastor professor que diz a Jesus não se assutar se cortar Deus ao meio e lá encontrar o Diabo ou cortar o Diabo ao meio e lá encontrar Deus; a relação de mártires em prol da igreja; a fala final do crucificado dizendo perdoai Ele não sabe o que faz. E apesar de tudo Saramago nos apresenta um homem imbuído dos mais sinceros sentimentos que a escência do cristianismo prega.
Este livro confirma a genialidade de um escritor capaz de dar nó em pingo de letra, para não falar de sua escrita moderna e experimental.
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