É tão pequenina, tão pequenina aquela borboletinha. E, ainda que tão pequenina, ilumina
singularmente toda a rua. Há uma doçura inexplicável em sua luz. Uma luzinha
branca, áurea, que vai freneticamente de lá para cá. Está perdida. Nos últimos
momentos da vida. Mas a borboletinha não desiste. Alça voo. Cai de novo. Tenta achar um rumo. E
a rua, já escura, se ilumina com os caminhos que percorre pelo ar. Nunca antes
vi uma borboletinha tão angelical. De onde veio este ser iluminado? E que
maldade ir-se agora, deixando todo este mundo órfão de sua presença. Que
presença divina. Ah, borboletinha, não vai, não. Tente mais. Plane novamente
com esta candura que poucos têm. Mas ela não ouve meus pensamentos. Eu que
estou ali, sentado na calçada, disperso da conversa dos homens. Com olhos
apenas para este ser vivo que, ao mesmo tempo, resplandece e agoniza bem ali,
diante dos meus olhos. Como é incrível ver que, nos últimos momentos de vida, a
borboletinha conserva toda esta beleza divina. Como pode florescer tanta
beleza, quanta beleza, meu Deus, minutos antes da morte? Como pode ser que,
daqui a alguns minutos, esta luz misteriosa se apague? E por que esta morte
doída, sofrida, que faz este pobre ser vivo cambalear, ziguezaguear
tortuosamente pelo ar, um tormento que dói um pouco em mim também. Eu que estou
ali, sentado na calçada, impávido, imóvel, só com os olhos para a doce
borboletinha. Neste momento, eu só queria que ela tivesse força para voar mais
alto. E, lá de cima, seguir rumo a algum canto, achar mais alguém que
reconheça, como eu, seu encanto. Mas a borboletinha agoniza. Bate nos muros,
postes, na árvore, no carro, tenta mais uma vez com um solavanco, ricocheteia,
dá um tranco e despenca outra vez... Já está distante – e eu tento
acompanhá-la, a despeito dos meus olhos míopes. Queria apenas que ela tivesse
força para seguir. Ela se foi. A vida tem fim. Até para esta borboletinha. A
morte tem mesmo a aspereza de uma lei, embora nem os lírios nem as
borboletinhas nasçam da lei – como era sábio o mestre Drummond. Por que, como
um sopro, morre toda esta indizível beleza?
Nunca, jamais saberei...
Rodrigo Cabral colaborou com o desafio poético do Plástico Bolha na edição #30.
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