Tensão no Oriente Médio. O âncora do telejornal faz cara de
paisagem nublada ao ler a mesma notícia todos os dias. Se fosse tesão, talvez
seu rosto ensolarasse. A burca queimasse. Mas não. É tensão. Com ene – de
energia. Que não cessa nem com as últimas cinzas da bandeira virando pó. Com as
estrelas apagando o céu. Com o vermelho escorrendo nas paredes.
Os manifestantes deixam as ruas nuas.
Dá vontade de importar essa gente. Essa massa. Essa paixão.
Essa loucura. Essa religião. Essa ideologia. Essa revolução. Essa primavera.
Essa tsunami. Essa força estranha que vem, sei lá, do enriquecimento de urânio,
das barbas do profeta, do cuscuz marroquino, do quibe cru, das mil e uma
noites, das xerazades, dos alibabás e seus quarenta ladrões, do gênio da
lâmpada, do que não há sob o turbante do sultão.
Dá vontade de importar essa tropa de elite osso duro de roer
para agir nos intervalos da novela. Para pegar um pegar geral pegar também
você. Para berrar no funeral dos honestos. Sacudir os esqueletos da nossa festa
pobre. Pisar a grama verde-loura da esperança. Decapitar as estátuas de isopor.
Sujar o fairplay do dicionário de boas maneiras. Fazer um minuto de silêncio
quando o volume da hipocrisia estiver no máximo.
Quando nossos tímpanos finalmente sangrarem uma coca bem
gelada.
Aí talvez a tensão e o tesão aterrissem kamikazes por estas
bandas – que mais parecem bundas. O âncora do telejornal faça cara de quem
bebeu e não gostou do coquetel molotov. A paisagem nublada ensolare. A burca
queime. O pó revire as últimas cinzas da bandeira. O céu desapague as estrelas.
As paredes desescorram o vermelho.
E a liberdade abra as asas – solte suas feras sobre nós.
Fábio Flora
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