quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Liberdade, liberdade


Tensão no Oriente Médio. O âncora do telejornal faz cara de paisagem nublada ao ler a mesma notícia todos os dias. Se fosse tesão, talvez seu rosto ensolarasse. A burca queimasse. Mas não. É tensão. Com ene – de energia. Que não cessa nem com as últimas cinzas da bandeira virando pó. Com as estrelas apagando o céu. Com o vermelho escorrendo nas paredes.
Os manifestantes deixam as ruas nuas.

Dá vontade de importar essa gente. Essa massa. Essa paixão. Essa loucura. Essa religião. Essa ideologia. Essa revolução. Essa primavera. Essa tsunami. Essa força estranha que vem, sei lá, do enriquecimento de urânio, das barbas do profeta, do cuscuz marroquino, do quibe cru, das mil e uma noites, das xerazades, dos alibabás e seus quarenta ladrões, do gênio da lâmpada, do que não há sob o turbante do sultão.

Dá vontade de importar essa tropa de elite osso duro de roer para agir nos intervalos da novela. Para pegar um pegar geral pegar também você. Para berrar no funeral dos honestos. Sacudir os esqueletos da nossa festa pobre. Pisar a grama verde-loura da esperança. Decapitar as estátuas de isopor. Sujar o fairplay do dicionário de boas maneiras. Fazer um minuto de silêncio quando o volume da hipocrisia estiver no máximo.

Quando nossos tímpanos finalmente sangrarem uma coca bem gelada.
Aí talvez a tensão e o tesão aterrissem kamikazes por estas bandas – que mais parecem bundas. O âncora do telejornal faça cara de quem bebeu e não gostou do coquetel molotov. A paisagem nublada ensolare. A burca queime. O pó revire as últimas cinzas da bandeira. O céu desapague as estrelas. As paredes desescorram o vermelho.

E a liberdade abra as asas – solte suas feras sobre nós.

Fábio Flora

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