segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Home sweet home


Na insistência de uma manhã improvável, toda calçada levaria finalmente ao abrigo enunciado por um portão carrancudo.

Na entrada, o silêncio ressentido da caixa de correio guarda testemunhos do mundo esquecido que contamina os segundos intranquilos de sua respiração.

Em seguida, decide-se entre o caminho de escadas surradas que ameaçam não suportar novamente o peso da sua insignificância ou a espera infinita do elevador, purgatório ambulante com botõezinhos brilhantes indiferentes ao seu destino.

Preferiu as escadas, apesar da escalada aos andares e o apoio áspero de um corrimão improvisado.

Semi-invertebrado, se arrasta pelo silêncio quase constrangedor de um corredor que se estreita mais a cada passo que vê passar o intruso da madrugada.

Duas janelas vesgas o observam num riso contido e sob seus pés, uma quantidade de incontáveis azulejozinhos insuportavelmente alinhados denunciam a assimetria dos seus passos.

Apática, a porta acompanha a campainha que romperia o silêncio anunciando o apocalipse, nãofosse o leve tilintar das chaves ao encontro da maçaneta de emoções enferrujadas.

Home sweet home, diz o tapetinho sujo e simpático à espera de uns sapatos massacrados.


Janina Daou tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha. 

Nenhum comentário: