Na insistência de uma manhã improvável, toda calçada levaria
finalmente ao abrigo enunciado por um portão carrancudo.
Na entrada, o silêncio ressentido da caixa de correio guarda
testemunhos do mundo esquecido que contamina os segundos intranquilos de sua
respiração.
Em seguida, decide-se entre o caminho de escadas surradas
que ameaçam não suportar novamente o peso da sua insignificância ou a espera
infinita do elevador, purgatório ambulante com botõezinhos brilhantes
indiferentes ao seu destino.
Preferiu as escadas, apesar da escalada aos andares e o
apoio áspero de um corrimão improvisado.
Semi-invertebrado, se arrasta pelo silêncio quase
constrangedor de um corredor que se estreita mais a cada passo que vê passar o
intruso da madrugada.
Duas janelas vesgas o observam num riso contido e sob seus
pés, uma quantidade de incontáveis azulejozinhos insuportavelmente alinhados
denunciam a assimetria dos seus passos.
Apática, a porta acompanha a campainha que romperia o
silêncio anunciando o apocalipse, nãofosse o leve tilintar das chaves ao
encontro da maçaneta de emoções enferrujadas.
Home sweet home, diz o tapetinho sujo e simpático à espera
de uns sapatos massacrados.
Janina Daou tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha.
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