A cobrança de pênalti foi autorizada pelo juiz. Adalberto
deu três passos para trás e respirou fundo. Nesse instante, o peito arquejou e
as pernas titubearam. De sofre, encarou a torcida, apreensiva pelo chute que
indicaria o campeão da Copa do Brasil. Sim, caso a bola resvale na trave, na
arquibancada ou nas luvas do goleiro, ocorrerá um homicídio no Maracanã.
Adalberto avançou em direção à bola, caprichosamente
alvejada na forquilha entre a trave e o travessão. O silêncio entre o momento
do apito do juiz (priii) e o carimbo na trave (treeec) virou uníssono. Na
arquibancada, vermelho se confundia com preto; e os pretos com os brancos,
todos em polvorosa.
De repente, destruíram as grades, barreira entre a
arquibancada e o gramado. Os torcedores correram na direção de Adalberto,
acuado ao meio do campo. Cada qual com objeto na mão, os transgressores
cercaram o atacante. Sem alternativa de fuga, pisou na marca de cal do centro
do estádio, e observou as setenta mil pessoas avançarem, em passos candentes.
Um pênalti perdido pode mesmo levar uma pessoa à morte? Sim, futebol é
casamento: Se os últimos quarenta e cinco minutos forem marcados por angústia,
de nada valeram os dez primeiros anos, de conquistas.
Muitos torcedores estavam munidos de bandeira, de
sinalizador e até de coquetel molotov. Era uma corrida embrionária para
chafundar aquele traidor. Adalberto observou que alguns manifestantes vestiam
máscara preta, e se sentiu na pele de políticos fraudulentos. É, deve existir
um inciso constituinte que garanta o direito do torcedor ao título de campeão.
Um homem negro, alto e sem camisa se destacou na barafunda.
Com as mãos livres, liderava o comboio, a cerca de dois metros de vantagem de
um provável concorrente. Ah é, agora a cabeça do atacante vale mais do que a
taça. Adalberto pôde enxergar o céu, límpido, semnuvem. Maldita trave!
Sem pestanejar, o homem acertou um cruzado de direita na
cara de Adalberto, que ouviu a rede bramir o alarde da vitória (chuaaa). A bola
se aninhou no esconderijo lateral da baliza. Indefensável.
Embevecido, o atacante fitou a torcida, que hasteava
bandeiras e lançava sinalizadores, ao coro de é campeão.
Hugo Pernet
Hugo Pernet é leitor-colaborador do Plástico Bolha e tem outros textos publicados em nosso blog!
Hugo Pernet
Hugo Pernet é leitor-colaborador do Plástico Bolha e tem outros textos publicados em nosso blog!
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