segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Voyager


      Quando vejo uma ínfima parte do nosso imensurável universo, percebo o quão pequenos e insignificantes somos no tempo e no espaço, não passamos de meros coadjuvantes neste espetáculo cósmico de 13,7 bilhões de anos. Senhores de si, cremo-nos o ápice da evolução, a primazia dos seres, esquecendo-nos de que somos apenas um elo nesta interminável cadeia de espécies, que entre evoluções e extinções, compartilharam ou ainda compartilham este mesmo pedaço de rocha errante.
      Sim, somos únicos sobre um aspecto, ao menos neste planeta. Somos seres providos de autoconsciência. Cientes de nossa finitude e capazes de estabelecer conjecturas, lançamo-nos ao desconhecido. A princípio para garantirmos nossa própria sobrevivência, e ao longo do tempo, para suprirmos as necessidades que surgiam à medida que cada grupo social evoluía e singularizava-se, transformando-se em uma sociedade com cultura, economia e organização política peculiares.
    Desbravamos territórios, apoderamo-nos de todos os habitats, alteramos significativamente a face do mundo. Entretanto esta busca frenética e incessante, que outrora impeliu-nos além das fronteiras, agora nos aprisiona. Guiados pelo consumismo descabido, mecanizamos nosso mundo material, nossas ações, nossas almas; perdemos-nos de nós mesmos, não olhamos mais nos olhos, não sentimos mais o toque, não ouvimos mais a voz. Somos 7 bilhões de vazio, solidão e silêncio, caminhando em um pálido corpo celeste suspenso no espaço.
     Prendemos-nos a mesquinhez, ao individualismo, substituímos valores por futilidades, julgamos e condenamos a cor, a escolha, o diferente. E assim seguimos. A cada passo um descompasso desenfreado rumo a um futuro corrompido por sistemas que nos fogem à compreensão, causando incertezas e desolação. E assim retrocedemos. A cada passo nos tornamos seres humanos desumanizados, desprovidos de sutileza, compaixão, altruísmo.
     Talvez precisemos olhar mais para o céu e além dele, para enxergarmos, com olhos mais humildes, dentro de nós. Talvez ainda haja uma esperança remanescente nesta “caixa de pandora”, esperando para despertar e florescer em nossos corações, trazendo-nos de volta a humanidade que nos é devida. Para que assim possamos evoluir, transformando cada passo em uma nova perspectiva, em um novo alvorecer, mantendo a verdade da mensagem dourada enviada aos confins da Via Láctea. Mais do que saudações, mais do que sons de ventos e beijos, mais do que sinfonias de Bach e Mozart, uma mensagem de que em algum ponto do cosmos existe ou existiu uma civilização “realmente” humana.

Liege Karyj


Liege Karyj é leitor-colaborador do jornal e tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha.

Um comentário:

Lucas Viriato disse...

ao infinito e além! Belo texto!