Quando vejo uma
ínfima parte do nosso imensurável universo, percebo o quão pequenos e
insignificantes somos no tempo e no espaço, não passamos de meros coadjuvantes
neste espetáculo cósmico de 13,7 bilhões de anos. Senhores de si, cremo-nos o
ápice da evolução, a primazia dos seres, esquecendo-nos de que somos apenas um
elo nesta interminável cadeia de espécies, que entre evoluções e extinções,
compartilharam ou ainda compartilham este mesmo pedaço de rocha errante.
Sim, somos
únicos sobre um aspecto, ao menos neste planeta. Somos seres providos de
autoconsciência. Cientes de nossa finitude e capazes de estabelecer
conjecturas, lançamo-nos ao desconhecido. A princípio para garantirmos nossa
própria sobrevivência, e ao longo do tempo, para suprirmos as necessidades que
surgiam à medida que cada grupo social evoluía e singularizava-se,
transformando-se em uma sociedade com cultura, economia e organização política
peculiares.
Desbravamos
territórios, apoderamo-nos de todos os habitats, alteramos significativamente a
face do mundo. Entretanto esta busca frenética e incessante, que outrora
impeliu-nos além das fronteiras, agora nos aprisiona. Guiados pelo consumismo
descabido, mecanizamos nosso mundo material, nossas ações, nossas almas;
perdemos-nos de nós mesmos, não olhamos mais nos olhos, não sentimos mais o
toque, não ouvimos mais a voz. Somos 7 bilhões de vazio, solidão e silêncio,
caminhando em um pálido corpo celeste suspenso no espaço.
Prendemos-nos a mesquinhez,
ao individualismo, substituímos valores por futilidades, julgamos e condenamos
a cor, a escolha, o diferente. E assim seguimos. A cada passo um descompasso
desenfreado rumo a um futuro corrompido por sistemas que nos fogem à
compreensão, causando incertezas e desolação. E assim retrocedemos. A cada
passo nos tornamos seres humanos desumanizados, desprovidos de sutileza,
compaixão, altruísmo.
Talvez precisemos
olhar mais para o céu e além dele, para enxergarmos, com olhos mais humildes,
dentro de nós. Talvez ainda haja uma esperança remanescente nesta “caixa de
pandora”, esperando para despertar e florescer em nossos corações, trazendo-nos
de volta a humanidade que nos é devida. Para que assim possamos evoluir,
transformando cada passo em uma nova perspectiva, em um novo alvorecer,
mantendo a verdade da mensagem dourada enviada aos confins da Via Láctea. Mais
do que saudações, mais do que sons de ventos e beijos, mais do que sinfonias de
Bach e Mozart, uma mensagem de que em algum ponto do cosmos existe ou existiu
uma civilização “realmente” humana.
Liege Karyj
Liege Karyj é leitor-colaborador do jornal e tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha.
Liege Karyj é leitor-colaborador do jornal e tem outros textos publicados no blog do Plástico Bolha.
Um comentário:
ao infinito e além! Belo texto!
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