domingo, 29 de outubro de 2023

NA TABACARIA, poema de Vicente Valle


À tabacaria comprar uns cigarros no intervalo do jogo do Botafogo

— clima médio de empate —

dou um Sneakers pra minha filha para adoçar um pouquinho (empate com o Goiás...).

O dono da tabacaria vem a porta, tá procurando algo meu filho?

Me vê um cigarro desse aí.

Entramos,

pego o varejo, ouço no radinho: virada do Goiás — saio,

metendo o troco nas calças, e o dono da tabacaria comemora.


Ele vem comigo até a porta, falando — torcedor filho de puta:

Esteves! Vem procurar a estrela solitária aqui na minha bunda!

Acendo meu varejo no isqueiro preso à parede, pego minha filha pela mão, limpo os beiços dela, cheios de chocolate.


Vejo um homem nos encarando da janela do outro lado da rua. Eu conheço ele? Que que ele está olhando a minha filha?

Será um desses pedófilos, sequestradores de crianças, ou só mais um torcedor da porra do Goiás?

Adeus, ó Esteves! Ele grita

— vai queimar no fogo do inferno, seu goiano de merda!


E o dono da tabacaria sorriu.


Vicente Valle

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