sábado, 14 de outubro de 2023

sopa de letrinhas




guardo na língua

uma (d)estrutura 

verborrágica

versos

(não) verbalizados 

efervescentes (que evaporam na minha boca como vitamina c

na água) 

como se o 

freio

da língua

bloqueasse 

a passagem dos verbos mais

viris

e o acúmulo de saliva fosse o

Rio São Francisco

dividindo territórios

entre o dito

e o não dito

guardo na língua

a mistura de 

sotaques 

uma sopa de 

letrinhas

uma (d)estrutura

fonética

sondando o meu 

chiar 

chacina identitária 

da paraibana pronunciando 

ixqueiro (um incêndio queimando o mapa das territorialidades que me 

atravessam)

guardo na língua

o sabor 

da seriguela

o sumo suculento da fruta 

desabrochando amarelo sob o meu 

paladar 

guardo na língua

o tom de voz de voinha

pedindo para eu pisotear suave os galhos das árvores para não

cair

guardo na língua 

restos 

de exteriores

partículas in

digestas de 

estrogonofe

espermatozoides

ex

am(arg)ores

guardo na língua

a sua elasticidade

estica

dobra

curva

guardo na língua

mucosa

micróbios

fibras

tais como as de um tentáculo de um polvo

Malu Brito

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