Moderno por excelência e desdobrado ao longo de quase todo o século 20, esse processo de subjetivação deflagrado pelo poeta itabirano revela uma dimensão eminentemente reflexiva e filosófica, com a qual se desenvolve e se abre ao mundo, de modo a expandir, para um universo de interesses coletivo e histórico, o campo individual da experiência. (SAID, 2020)
O poeta aborda temas que tangiam a sua atualidade. Há a constante presença de sua inquietude perante o mundo e a forma de se viver: incômodos e desamparos nos âmbitos político (observado em textos como Congresso Internacional do Medo), social (como nos poemas Nosso Tempo e Anúncio da Rosa), trabalhista (visto em Elegia 1938), afetivo (como em Coração Numeroso e Os Ombros Suportam o Mundo).
O autor viveu e produziu plenamente na Era Vargas (1930-1945), onde diversas transformações sociais, políticas e econômicas ocorreram, incluindo um golpe de Estado, promovido pelo então presidente Getúlio Vargas, em 1937. Simultaneamente, ocorria a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Era, portanto, um momento profundamente conturbado, e isso se reflete em sua obra, como evidenciado nessa passagem de Elegia 1938:
Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrotae adiar para outro século a felicidade coletiva.Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
O medo, a revolta e o desejo e procura por um mundo melhor são sensações constantes neste conjunto. Isso é exemplificado nestes fragmentos de Nosso Tempo:
IV
É tempo de meio silêncio,
de boca gelada e murmúrio,
palavra indireta, aviso
na esquina. Tempo de cinco sentidos
num só. O espião janta conosco. (...)
VIII
O poeta
declina de toda responsabilidade
na marcha do mundo capitalista
e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
prometa ajudar
a destruí-lo
como uma pedreira, uma floresta
um verme.
Através de uma contorcida escrita do eu, sua visão de mundo não só nos remete ao universo sociopolítico propriamente mineiro, de que os poetas do século XVIII da cultura do ouro são referência obrigatória, como também nos permite uma elaborada visão do roteiro moderno do Brasil no contexto das nações. (SANTIAGO, 2002)
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