segunda-feira, 27 de novembro de 2023

Duas mãos e o sentimento do mundo (V)

V. O amor bate na aorta

Em Amar-Amaro, o poeta versa sobre os conhecimentos sobre o amor, afeto muito presente em toda sua obra e temática de alguns de seus poemas mais celebrados como O Amor Bate na Aorta. As paixões intensas - passageiras ou não - e seus caminhos, as atrações românticas ou sexuais e as desilusões amorosas são temáticas bastante exploradas, como nos textos Ciclo, O Quarto em DesordemQuadrilha. Evidenciam-se no trecho de O Mito:

Amarei mesmo Fulana?
Ou é ilusão de sexo?
Talvez a linha do busto
Da perna, talvez o ombro 
 
Amo Fulana tão forte
Amo Fulana tão dor
Que todo me despedaço
E choro, menino, choro 
 
Mas Fulana vai se rindo 
Vejam Fulana dançando

O autor reflete constantemente sobre o amor em si e seus efeitos e transformações no âmbito individual ou coletivo:

Um dos pontos mais problemáticos é o enlace do amor com o conhecimento, como os percalços existentes na impossibilidade de se fundir emoção com razão, reforçando mais um dos aspectos da dialética barroca do poeta mineiro. Se ‘minerar’ remete a explorar, extrair, garimpar, o poema propõe a ‘decifração da decifração a que obriga o sentimento’. Arrigucci Jr. (2002, p. 113) ressalta ainda que ‘o caráter problemático do amor é também o da linguagem poética que se esforça para exprimi-lo: alquimia insólita, que deve transformar em poesia o ouro já transformado em outro ser’. (ERTHAL, 2016)

Este caráter é trabalhado em textos como Entre o Ser e as Coisas, Amar-Amaro, Véspera e Memória. Exemplifica-se no trecho do poema Amar: 

Que pode, pergunto, o ser amoroso
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha 
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?


Luisa Issa

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