jamboeiro me avisou que as frutas
estão caindo, está na hora
que antes de apodrecerem
devo chamar meu pai
pra colhermos juntos
— a nossa escola
o prenúncio do tapete
rosa e depois de maduro
a queda
(o doce-ácido,
o branco-rosa)
então aqui estamos nós:
ele sentado
carregando a Sacola de
Jambo enquanto me olha
catar os frutos
debaixo
de duas sombras
tão antigo hábito
esse eu nunca vou
deixar de contar
os dedos dos pés
dos outros na rua
pra ver se dá cinco
então conto os meus
conto os do meu pai
conto quantos frutos
exatamente caem
esse que sobrou
catei, estava tão limpo,
raridade estar tão limpo,
limpo como se estivesse
pronto para ser comido
entrego ao meu pai
num cuidado correto
(um alento infantil
que outrora inverso)
estamos testemunhando
o pé de jambo se desfazendo dos seus filhos
meu pai aqui, o esforço de vir comigo
catar jambo, esse último gesto
uma árvore secular, e ele está tão velho
desfrutando o jambo, me olhando
com olhos de
amor de fato
mordendo um fruto
deixando rastros (eu
penso: está soltando
a minha mão)
assumo então novos frutos que nascem
e recolho os que caem
aos meus
pés
Paula Reis Vianna
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