Sob as máscaras da realidade meu discurso cai no descaso.
São letras aquelas lá no fim do poço? Sim. As letras que eu usaria para fugir
deste hospício. Como meu amigo diria: “I was h(r)opeless.”
Sob a faceta de um mundo unitário a escolha de viver em um hospício não me parece loucura tamanha. Reprimidos, oprimidos, subjugados destituídos. Descrita nossa realidade parecemos pouco. Somos poeira de verbo, não de Beckett, mas de Ocidente. Condenados à reclusão, pois da vida fomos capazes de retirar tudo: vida e morte, apenas para começar.
Sob a escuridão de noites melancólicas aperto-me pelos corredores
em direção à ala dos deficientes mentais. Ando tendo preferência pelo paciente
a que os interinos denominam Albee. Os médicos o diagnosticaram como:
suscetível à tendências absurdas. Tratam-no, portanto, como um ser sem
inteligência. Seu senso de humor dificulta a compreensão plena de que haja, ao
menos alguma, seriedade em sua fala. Eterna alegria de um sádico. Desencadeador
da desordem humana. Ideia paradoxal quando ao lado da experiência de plenitude
à qual ele me encaminha. Um possível reencontro à realidade de um eu
contemporâneo? Talvez. Nunca esquecerei aquela musiquinha que ele sempre
cantava: “Quem tem medo de Virgínia Woolf? Virgínia Woolf? Virgínia
Woolf?”
Sob a dor de meu contato com outros pacientes reflito sobre
a minha condição. Não sei se encontro-me presa a uma âncora. Mas lá fora
sinto-me presa a um navio! Como posso deixar esse lugar me vencer?! Permitir
a acepção de um mundo o qual, em primazia, nega a dualidade inerente à toda e
qualquer pessoa. Dor.
Sob a realidade deito meu corpo. O hipnótico Doutor Hoffman
coloca-me sob os cuidados de seu assistente. O homem da areia. Para
onde foram os outros pacientes? Só resta a mim? A última a enfrentar o
inevitável lamento de nosso mundo dual? Quais serão os ícones estes que
permeiam meus sonhos de defeitos e simbologias? À partir de agora conduzo-me
aos pacientes mais subjetivos desse hospício. Sigmund e Friedrich. Nessa eterna
paralização do real, na qual o social se dissolve e escorre como água
derramada, o homem sofre a pequena morte do gozo, que, no auge do desejo,
lembra-se de tudo que o une á morte. Eis que aquilo que não o mata, o
fortalece. Passo, finalmente a existir onde não sou. Existir no outro. Caem,
então, as máscaras da realidade e colocam-se as máscaras da experiência alheia.
Incessantemente.
Sob o inconsciente ascendo-me à inteireza do ser.
Gabriel Leibold
Um comentário:
Esse é Leibold, além de escrever muito bem também canta um rock de primeira.
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