Pronto, abelha! Aqui sua crônica. Satisfeita? Assim espero... Peço licença agora pra dividir com o leitor a sua história, a nossa.
Chegava eu em Araras, onde fui com minha mãe visitar o terreno em que ela está construindo; tinha em mãos papel e caneta, e na cabeça uma ideia: escrever algo sobre meu falecido pai. Sobre como a expulsão de Adão e Eva do paraíso me parecia um tanto análoga à situação de um jovem quando sai da casa dos pais. Sobre a morte de deus.
Vim esboçando algumas frases ainda na estrada, a letra horrível, na contracapa de um livro que estava jogado no banco de trás. Quando paramos no centrinho comprei um caderno.
Chegando ao terreno, saí do carro e me sentei direto num montinho de entulho que havia e ataquei sem dó o papel.
- Filho, você não vai subir comigo pra ver como tá ficando a obra?
Nem respondi. Estava trabalhando na minha obra. Eis que entra em cena nossa amiga. Enquanto escrevia, uma abelhinha (ou algum bicho que zune, que chamarei de abelha) começou a me pentelhar. Pior, parecia que dava voltas ao redor de mim. Parecia de propósito.
- Puta que o pariu - pensei - um assunto tão sério e você me atazanando. Ela impedia qualquer concentração requerida pelo tema. Mudei de lugar, ela veio atrás. Gostaria de enfatizar o quanto parecia ser de propósito. Era pessoal.
Pedi à minha mãe a chave do carro e entrei para tentar escrever meu texto. E não é que podia vê-la batendo sua cabecinha no vidro. Fui forçado pelo calor a abrir a janela. O zumzumzum constante, e, acredite quem quiser, ela entrou no carro, me obrigando a sair.
O certo aí era eu ter ficado muito puto. Seria minha primeira reação. Mas não. Entendi que ela queria me dizer algo. Talvez fosse até mesmo meu pai falando através dela: - olha, a vida é aqui, agora. O zumzumzum, minha própria consciência, incômoda, mas fundamental.
Aqui, abelhinha; espero que goste. Agora me deixa ir ver a obra.
Santiago Perlingeiro
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