Estamos no mar. Mais exatamente, no Canal da Manga, sim, da
Manga. Braço de mar integrante da imensidão do Oceano Atlântico. Mas isso não
importa. Estamos no mar da Normandia. Espremidos por terra no passado e no
futuro, no limite da razão. Mas isso também não importa.
O que é o mar?
Segundo meu dicionário, a palavra mar deriva do latim mare:
uma longa massa de água salgada que cobre grande parte da superfície terrestre.
Eu não gosto dessa definição.
Prefiro dizer que o mar é o mar. E que água é água e que sal
é sal. Já em relação a superfície terrestre prefiro não fazer comentários.
Por que fala-se tanto de mar em músicas, poesias, prosas?
Por que é no mar que vou me perder? Por que comparo minhas lágrimas ao mar. Por
que afundo tudo no mar?
Eu não penso muito no mar.
Eu gosto de pedras, instead.
Eu gosto do peso da pedra. Eu gosto da quietude da pedra. Eu
gosto de sua ignorância, de sua arrogância, de sua aspereza. Da sua falta de
cheiro. Da sua falta de som, de discurso, de importância.
Eu gosto de pedras ao mar.
Pedras que abraçam penínsulas, pedras que fazem-se ilhas.
Pedras em baixo e em cima de nós.
Pedras quietas em um mundo de transeuntes apressados,
inquietos, sem peso, igualmente cheios de ignorância, arrogância e aspereza. No
entanto com cheiro, som, discurso e importância, abraçando uma península.
Não tem altura o silêncio das pedras; nos diz Manoel de
Barros.
Ana Elisa Lidizia
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