(por Luiz Coelho)
.Desde Dante, a literatura italiana tem se notabilizado por contribuir para com a tradição ocidental com grandes artesãos da língua, fazendo de textos lugares pulsantes da imaginação. Alessandro Baricco, nosso contemporâneo, não foge à regra. Autor muito conhecido no Brasil por Seda, romance de época, a meu ver deveras insosso, pode ser muito apreciado por Sem sangue — um thriller.
Novela que deixa o leitor sem tempo pra respirar, com uma narrativa muito próxima ao cinema, composta por muitos acesos e inquietantes diálogos que tangem o pulsante olho do ciclone da interioridade humana, sem grandes devaneios psicologizantes, somente a partir dos extratos que os personagens ofertam em seu contato, nada inorgânico.
“— o senhor não é cego — disse.
— o que disse?
— o senhor não é cego, não é mesmo?
O homem começou a rir.
— não, não sou.
— é curioso...
Por que eu deveria ser cego?
— bem, os vendedores de bilhetes de loteria sempre são cegos.
— é mesmo?
— talvez nem sempre, mas muitas vezes... acho que as pessoas gostam que eles sejam cegos.
— em que sentido?
— não sei, imagino que tenha a ver com aquela história de que a sorte é cega.
A mulher falou e depois começou a rir. Tinha uma bela risada, fresca.”
(pgs. 44 e 45)
Baricco tange a conturbada atmosfera da interioridade humana afetada pela guerra em interessantes recursos de evocação de memória, ao contrário de um lugar comum que nos fez acostumar com autores que se aplicam em pinçar nos olhos do leitor uma ou outra lágrima. O leitor já enfadado com a enxurrada de romances sobre o assunto, sobretudo em função de nosso último século, encontra uma grata surpresa, que põe em questão a estrutura íntima do trauma, sem muitas elucubrações filosóficas, mas com uma narrativa fluida, intensa e que surpreende por não adotar soluções fáceis ao que se impõe. Vale a pena se demorar, no máximo uma hora (pois a leitura não passa disso), com uma novela que prima pelo virtuosismo de um escritor que “não inventa”, mas põe em xeque o mais do mesmo da produção contemporânea.
Novela que deixa o leitor sem tempo pra respirar, com uma narrativa muito próxima ao cinema, composta por muitos acesos e inquietantes diálogos que tangem o pulsante olho do ciclone da interioridade humana, sem grandes devaneios psicologizantes, somente a partir dos extratos que os personagens ofertam em seu contato, nada inorgânico.
“— o senhor não é cego — disse.
— o que disse?
— o senhor não é cego, não é mesmo?
O homem começou a rir.
— não, não sou.
— é curioso...
Por que eu deveria ser cego?
— bem, os vendedores de bilhetes de loteria sempre são cegos.
— é mesmo?
— talvez nem sempre, mas muitas vezes... acho que as pessoas gostam que eles sejam cegos.
— em que sentido?
— não sei, imagino que tenha a ver com aquela história de que a sorte é cega.
A mulher falou e depois começou a rir. Tinha uma bela risada, fresca.”
(pgs. 44 e 45)
Baricco tange a conturbada atmosfera da interioridade humana afetada pela guerra em interessantes recursos de evocação de memória, ao contrário de um lugar comum que nos fez acostumar com autores que se aplicam em pinçar nos olhos do leitor uma ou outra lágrima. O leitor já enfadado com a enxurrada de romances sobre o assunto, sobretudo em função de nosso último século, encontra uma grata surpresa, que põe em questão a estrutura íntima do trauma, sem muitas elucubrações filosóficas, mas com uma narrativa fluida, intensa e que surpreende por não adotar soluções fáceis ao que se impõe. Vale a pena se demorar, no máximo uma hora (pois a leitura não passa disso), com uma novela que prima pelo virtuosismo de um escritor que “não inventa”, mas põe em xeque o mais do mesmo da produção contemporânea.
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