quarta-feira, 8 de abril de 2009

Conto: Um Belo Movimento No Escuro

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Eu não sei. Não sei mesmo. O que se passa é palavra escondida. Incógnita. Durmo e acordo sem saber.

Ao anoitecer, passo sempre pela área, espiando de relance o céu daquela hora. Olho as estrelas, como quem espera a salvação. Como quem espera o dia em que, ao abrir a porta, a espera vira ontem. Amarga espera de quem espera o doce.

Parece que lá no pé do dia o gosto vem. A impressão é de que todo minuto de dia tem broto de flor dentro. O problema é achar o regador. Fica escondido, com medo da muda nascer errada. Como pode?!

Acho mesmo que nunca vou saber o motivo. O porquê desse desequilíbrio quando ando na rua e sinto cheiro de livro, de palavra. Faz com que me lembre, sempre, sempre e, muito sempre, desse sorriso quebrado que me faz chorar. Desse olhar que corta e cura ao mesmo tempo. É que, de certa forma, isso é o que preenche o marasmo do saco de estopa. Vazio ele não pára em pé. Nem eu.

Aí vem um poema, uma música, um morango, um texto, um filme e um nó. Assim, tudo aomesmotempomeatropelando! E me deixando louca de novo. Que é sempre pior que da primeira vez. Quando se endoidece a primeira vez, o grito e a angústia têm um frescor de pão quentinho. Nas vezes seguintes, é pão dormido. E a garganta aperta mesmo, parece que não passa nem uma agulha.

Vai ver que estou grudada. Sou a asa do bule que quebrou e depois de colada pareço mais nele do que antes. Meus sentimentos passaram cola no verso e abraçaram meu coração de tal forma que... que... que nem sei. Não sei, não. Eu disse no início que não sabia.

E a cada fronha, uma esperança. Oração para que desta vez o sonho não assuste. Ou que não se acorde daquele tão delicioso mergulho no fundo do mar, de mãos bem dadas e plenitude no peito. Mas a fronha insiste em ficar quente no verão, e aquela agonia de calor vai subindo, mudo de lado, viro, dobro, e ela esquenta. Ah! Se as fronhas ficassem sempre geladinhas no verão...

Não perco a mania de me imaginar melhor do que sou. Imagino-me sempre mais feliz. Mais confiante. Mais segura. Lá no futuro, que é depois da curva de laranjeiras, me vejo bem. Calma, plácida. E tem sempre alguém do meu lado bem caladinho. Em silêncio. É como se a gente estivesse conversando por horas. Com cara de quem sempre esteve ali.

Outro dia, meu, eu me disse que eu preciso gostar mais de mim. Mas não consigo entender o significado dessa frase! Não sei o que é. Acho difícil essa questão. Nunca é onde acho que deveria ser. Vivo errando de lado. Aí ele sussurra e fala “pára de fingir que está gostando, porque, se estivesse, não precisaria falar uma palavra. A sensação de prazer tomaria conta por si só e transbordaria seu coração para fora.” É... tem razão.

Mas eu só queria dizer que só sei do hoje. E hoje, passo adiante.
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Um comentário:

Anônimo disse...

ahhh, mas que coisa sensacional!!! qual o seu blog???
Camila Justino